Êta Mundo Melhor! mostra que continuação de novela não é uma boa ideia

Maria (Bianca Bin) e Celso (Rainer Cadete) em Êta Mundo Bom! (divulgação)

Noveleiro que é noveleiro adora acompanhar o desenrolar dos acontecimentos esperando um final feliz. Depois de seis meses de conflitos, é interessante ver os mocinhos se dando bem e os vilões pagarem por seus crimes. O último capítulo de uma novela fecha o arco dos personagens pelos quais o público tanto torceu.

Mas e quando essa história ganha uma continuação? Aí o autor é obrigado a reabrir os desfechos e simplesmente acabar com o final feliz mostrado na trama anterior. Com isso, o sentimento de frustração é inevitável. Ao assistir a uma continuação, o público constata que o final feliz nada mais foi que um momento.

Continuação de Êta Mundo Bom! (2016), Êta Mundo Melhor! deixa isso bem claro. Na trama original criada por Walcyr Carrasco, o casal Celso (Rainer Cadete) e Maria (Bianca Bin) caiu nas graças do público, que foi brindado com o final feliz dos pombinhos. Mas, na continuação, os espectadores descobriram que o final feliz do casalzinho foi apenas uma ilusão.

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Final feliz?

Em Êta Mundo Bom!, Celso demonstrou caráter duvidoso ao se aliar à irmã Sandra (Flavia Alessandra) para colocar as mãos na fortuna da tia Anastácia (Eliane Giardini). Mas, ao se apaixonar pela empregada Maria, ele se redimiu. Principal aliada de Candinho (Sergio Guizé), Maria transformou Celso a ponto de ele deixar de ser vilão e ajudar o primo a derrotar a irmã do mal. No fim, todos ficaram felizes.

Porém, em Êta Mundo Melhor!, o público descobriu que não foi bem assim. Bastou Celso descobrir que herdou apenas um relógio da tia para que seu ressentimento ressurgisse com força total. Além disso, ficou claro que o casamento com Maria não anda nada bem.

Mas a coisa vai piorar. Nos próximos capítulos, Maria morrerá atropelada. Ou seja, o final feliz pelo qual o público tanto torceu deixará de existir e uma onda de tragédia se abaterá sobre a vida destes personagens. Não é triste?

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Incoerências

Até aqui, Celso ensaia para repetir, em Êta Mundo Melhor!, a trajetória de Êta Mundo Bom!. Estela (Larissa Manoela) entrou em cena e já ficou claro que ela é a “nova Maria”, que terá a missão de redimir Celso novamente. Ou seja, o personagem de Rainer Cadete percorrerá a mesma trajetória vista na novela original.

E com um agravante: agora o público já sabe que o amor por Maria não transformou Celso tanto quanto parecia. Sendo assim, quem garante que, com Estela, as coisas serão diferentes? Provavelmente, numa hipotética terceira novela, o público descobrirá que Celso continua a mesma pessoa de sempre. No fundo, ele é um vilão.

Essa não é a única incoerência da continuação. Também é muito estranho todo mundo se referir à Filomena (Débora Nascimento) como uma pessoa volúvel e de caráter duvidoso. Quem acompanhou a novela original sabe que a mocinha era muito reta, mas foi vítima de muitas circunstâncias terríveis.

Tudo bem que o público não comprou Filó como mocinha na novela original e a personagem até perdeu espaço na história por conta disso. Mas não era preciso transformá-la praticamente numa vilã nesta sequência. Lembrando que, na segunda parte, a personagem é apenas citada, já que morreu queimada ao tentar fugir com Ernesto (Eriberto Leão) - que, diga-se, havia morrido em Êta Mundo Bom!, mas apareceu vivinho da silva em Êta Mundo Melhor!. Pois é…

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Fórmula de sucesso

Walcyr Carrasco é um autor de sucesso, alcançando êxitos em todos os horários em que escreveu. Mas não é exagero afirmar que suas melhores obras são das 18h. O Cravo e a Rosa (2000), Chocolate com Pimenta (2003), Alma Gêmea (2005) e Êta Mundo Bom! são tramas competentíssimas.

Todas elas reúnem personagens carismáticos, humor pueril e romances graciosos, com uma fórmula que agrada o público de todas as idades. Êta Mundo Melhor! bebe da mesma fonte e é pouco provável que não faça sucesso. Com a novela, a Globo mostra que busca andar em terreno seguro. A emissora não quer errar. Neste contexto, a nova novela das seis é divertida e cumpre sua missão de entreter com louvor. 

Porém, não seria mais interessante apostar numa história original nestes moldes, ao invés de fazer uma continuação? Por que abrir desfechos que já estavam resolvidos e estragar a história anterior? Isso aconteceu em Verdades Secretas 2 (2021), que implodiu o ótimo desfecho da primeira parte. Não precisava fazer isso de novo.

André Santana

05/07/2025