Pat (Paolla Oliveira) e Moa (Marcelo Serrado) em Cara e Coragem (divulgação/Globo) |
A indiferença do público com relação a Cara e Coragem chamou a atenção. Mais do que baixa audiência, a novela das sete da Globo não foi capaz nem de despertar uma reação negativa. Veja Travessia, com baixa audiência, mas sempre muito comentada nas redes. Já a novela de Claudia Souto não teve direito nem a haters fervorosos.
Isso se justifica, provavelmente, porque Cara e Coragem não chegou a ser uma novela ruim. Ela tinha uma história pra contar e alguns personagens até interessantes. No entanto, a trama teve dois erros fundamentais: o plot pouco “novelesco” e a incapacidade de gerar conexão com o público.
Cara e Coragem tinha uma trama central toda calcada no mistério. Ela começa com uma morte mal explicada e diversos elementos instigantes que vão sendo jogados ao longo dos capítulos. Fórmula secreta perdida, empresária morta misteriosamente, uma sósia suspeita, uma seita com mulheres vestidas de laranja.. Eram várias as pecinhas que a autora jogava para tentar fazer o público bancar o detetive e criar teorias.
Mas o plot se revelou insustentável diante dos quase 200 capítulos de Cara e Coragem. Se fosse uma série, de repente todo este mistério ficasse mais interessante. Mas, numa novela, a autora teve que fazer uma verdadeira ginástica para manter tudo de pé por tanto tempo. Com isso, a sensação de “enrolação” aborreceu. Um erro, aliás, que Claudia Souto cometeu também em Pega Pega (2017).
Porém, o maior erro de Cara e Coragem foi o fato de ela ter sido incompetente para fisgar o público pela emoção. Veja: a novela começou, de cara, com o misterioso assassinato de Clarice (Taís Araújo). Mas quem é Clarice? O público não sabia quem era ela. Aliás, a novela acabou e o público continuou sem saber. A empresária foi muito mal apresentada. É difícil embarcar no mistério de sua morte se Clarice não criou qualquer conexão com a audiência.
A maior prova de que o público pouco se importava com Clarice foi o fato de, quando a novela revelou que, na verdade, a empresária estava viva, nada aconteceu. Ninguém se surpreendeu, não houve qualquer efeito junto ao espectador. Aí, ficou bem claro que Cara e Coragem não tinha mais jeito.
Além do mistério, Cara e Coragem apostou no romance. Neste caso, Claudia Souto pagou pela ousadia, já que Pat (Paolla Oliveira) e Moa (Marcelo Serrado) se revelaram heróis imperfeitos e muito humanos. A trama contou a história de dois amigos que se descobrem apaixonados, simples assim. Pat não tinha qualquer problema em seu casamento com Alfredo (Carmo Dalla Vecchia), mas percebeu que, na verdade, amava o melhor amigo. Algo possível de acontecer na vida real, mas, vamos combinar, bem pouco folhetinesco. Alfredo, um cara legal, ficou parecendo uma “vítima” da mocinha.
Nos últimos capítulos, a coisa ficou ainda mais complicada quando foi revelado que Sossô era filha de Moa, e não de Alfredo. Ou seja, Pat e Moa já haviam se envolvido lá atrás. E mais: não só Pat, mas Moa também era casado na época, com Rebeca (Mariana Santos). Ou seja, o casal principal cometeu adultério. Particularmente, achei interessante e ousado. Mas uma história que parte do público, provavelmente, rejeitou.
Por essas e outras, Cara e Coragem passou indiferente diante da audiência. A novela das sete pecou ao propor uma história intrigante e cheia de suspense, mas que não soube conectar o público a ela. Os mistérios da trama deixaram o público de fora da brincadeira. A audiência precisa se sentir cúmplice dos acontecimentos, o que não aconteceu. Em suma, faltou o básico: emoção. Cara e Coragem falhou miseravelmente na tentativa de emocionar o espectador.
André Santana
14/01/2023
2 Comentários
Olá, tudo bem? Eu até hoje quero entender os altos índices de audiência da novela Pega Pega. O problema é que Cara e Coragem não tem o perfil de uma novela das sete.... Comentarei no blog. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br
ResponderExcluirPega pega, para fazer comparação com uma obra da mesma autora, foi sucesso porque tinha casais simpáticos, personagens carismáticos e a cumplicidade do público. Em Pega pega o público sabia tudo: quem eram os ladrões, a motivação de cada um, o passo a passo de tudo. O público participava de tudo. Era divertido ver a polícia errando, acertando. Já em Cara e Coragem tudo era tão misterioso, que não se entendia era nada e sem entender, sem torcer, sem se emocionar como foi falado não há novela que engaje, que faça sucesso. Quanto ao casal principal para mim foi mal formatado, não achei ousadia, achei falta de noção mesmo forma um casal em cima de outro casal que vivia bem. Falta de noção porque era claro que o público, no geral, não iria torcer para eles. Diferente se o marido dela tivesse ares de vilão, mas pelo contrário era gente boa até demais.Torço para que a autora tenha ao menos mais uma chance já que há coisas boas no texto dela. Mas que tenha ficado a lição de que novela é feita para o público e tem que ser pensada para ele antes de qualquer coisa. Gilmar JM.
ResponderExcluir