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Patati Patatá e Melocoton no Bom Dia & Cia (divulgação) |
O SBT surpreendeu todo mundo ao anunciar a volta do Bom Dia & Cia. Mais longevo programa infantil da emissora, a atração que revelou Eliana, Priscila, Yudi e cia saiu do ar em 2022 por conta da baixa audiência. Sendo assim, a princípio, não fazia sentido retomar um programa que já não apresentava bons resultados, nem de audiência e muito menos comerciais.
Mesmo assim, a emissora criada por Silvio Santos bancou a aposta e trouxe a dupla de palhaços Patati Patatá para comandar a nova fase do infantil. E a atração não voltou apenas como mera “cabeça de desenhos”, como era anteriormente, mas também apostou em bastante conteúdo diversificado.
Na nova fórmula, o Bom Dia & Cia resgatou vários elementos clássicos. O cenário em formato de casa remete aos primeiros anos da atração, quando comandado por Eliana - inclusive a presença do fantoche Melocoton, uma febre nos anos 1990. O quadro de café da manhã também é do tempo da lourinha. Os jogos por telefone, que caracterizaram a fase comandada por Priscila e Yudi, também estão lá.
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Boa intenção
Além disso, o novo Bom Dia & Cia aposta em quadros novos, como a Rádio Bom Dia & Cia, com musicais, e muita produção nacional, como a animação O Show de Luna e a série Parque Patati Patatá, que é muito bem-feitinha. Ou seja, o infantil voltou com investimentos e muita boa intenção.
Porém, apesar da boa intenção, a volta do infantil não trouxe grandes resultados para o SBT. Pelo contrário: se o Primeiro Impacto esticado registrava índices até satisfatórios para os atuais padrões da emissora, o infantil derrubou os números e fez a Record crescer. Como Daniela Beyruti já afirmou que não terá pudores em mudar a grade caso algo não funcione, já é possível cravar que o novo Bom Dia & Cia terá vida curta.
Com isso, fica a pergunta: será que os programas infantis realmente não têm mais vez na TV aberta? Muito se reclama que não há mais atrações para crianças, mas as poucas que existem acabam registrando baixos índices. Por que será?
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Falta de criatividade
Para aprofundar essa questão, é preciso voltar no tempo e entender porque os infantis sumiram da TV aberta. Afinal, até hoje se coloca tal sumiço na conta da restrição de propagandas voltadas para crianças, o que de fato afetou o faturamento de programas infantis. No passado, Eliana vendia Toddynho, tênis Klin e outra infinidade de badulaques para os pequenos em merchans durante a atração. Hoje, isso não é mais possível.
Porém, a dificuldade em vender programas infantis não é o único fator que fez essas atrações sumirem. Também é preciso observar que o segmento mergulhou numa profunda falta de criatividade em seus últimos anos, o que fez o público-alvo dispersar.
O próprio Bom Dia & Cia, por exemplo, era uma grande novidade em 1993, ano em que entrou no ar. Quando o programa estreou, o comum eram shows de auditório para crianças, como os programas comandados por Xuxa, Angélica e Mara Maravilha. Já o programa de Eliana seguiu um outro caminho, mais intimista, com conteúdo educativo. O SBT criou um formato novo, que caiu nas graças do público.
A emissora de Silvio Santos, aliás, sempre foi feliz com seus infantis. Basta lembrar também do Disney Club (1997), que mesclava dramaturgia e desenhos e não subestimava a inteligência do público. Era um programa criativo, diferente, e que agradou em cheio a audiência.
Enquanto isso, a Globo também demonstrou criatividade e poder de produção ao investir em infantis como TV Colosso (1993), Caça Talentos (1996) e a última versão do Sítio do Picapau Amarelo (2001), atrações que registravam excelentes índices de audiência. Essa criatividade se perdeu nos últimos anos e os infantis se tornaram faixas de desenhos, tanto o Bom Dia & Cia quanto a TV Globinho.
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Investimento
Neste contexto, o novo Bom Dia & Cia até acerta ao tentar trazer um conteúdo que vai além dos desenhos. Porém, essa insistência do SBT de viver de passado ajuda a explicar o fiasco da atual aposta. Palhaços e musicais podem não ser exatamente o que a geração atual, que já nasceu com o celular na mão, quer assistir.
Até porque os quadros atuais do Bom Dia & Cia estão claramente emulando conteúdos infantis digitais. Se é pra ver na TV a mesma coisa que a criança já vê no celular, melhor então é seguir no celular, certo? Ou seja, o desafio é trazer um conteúdo diferente, que seja capaz de atrair a atenção dos pequenos da nova geração.
Uma saída pode ser apostar em infantis que falem a um público menos nichado, para atrair também pré-adolescentes e até donas de casa - afinal, vale lembrar que programas como Xou da Xuxa (1986) não falavam apenas com crianças. É preciso pensar fora da caixa e surpreender.
O SBT merece aplausos por querer reconquistar as crianças, que sempre foram seu público mais fiel. Porém, a atual aposta não tem apelo para trazer o público infantil de volta à TV. A saída seria resgatar a inventividade vista em atrações como TV Colosso, Disney Club e cia, mas que falasse à criança de hoje. É um baita desafio.
André Santana
31/05/2025
1 Comentários
Interessante que ninguém fala em proibir programas policiais antes das 21 horas, como fizeram, de forma acertada, a proibição de comercialização de produtos em programas infantis. Claro que os inúmeros interesses da "bancada da bala" no Congresso, inclusive com vários apresentadores desses lamentáveis programas policialescos, contribuem para isso, mas penso que vale a pena bater nesse ponto também, pois em vários países da Europa e mesmo aqui do lado, no Uruguai, essa proibição para minimizar os efeitos da violência já existe.
ResponderExcluirSobre os programas infantis, concordo com você, lembrando ainda os diversos desenhos que são exibidos nas TVs pagas e agora nos streamings.