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"Assédio": com pouco espaço na TV aberta, Globo experimenta no streaming


Como dito por aqui na semana passada, a linha de shows da Globo nunca esteve tão variada. Antes quase toda tomada por teledramaturgia, a faixa agora exibe, também, programas de auditório. A prática, no entanto, teve um problema colateral: o canal, agora, tem menos espaço em sua grade tradicional para fazer suas experiências. Assim, a emissora tem usado seu serviço de streaming, o GloboPlay, como um espaço para novas séries e experimentações em teledramaturgia. Assédio, primeira série exclusiva do serviço, deixou isso bem claro.

A minissérie teve seu primeiro episódio exibido pela TV Globo na noite da última segunda-feira, 15, em caráter especial. A produção, desenvolvida exclusivamente para o serviço de streaming, mostra que o GloboPlay é o novo espaço para experiências da emissora. Não que o canal aberto do Grupo Globo não tenha exibido minisséries semelhantes. Mas é evidente que a emissora busca ampliar seu alcance. A ideia é conquistar um público que não acompanha sua programação tradicional.

E Assédio tem esse apelo. Inspirada no livro A Clínica – A Farsa e os Crimes de Roger Abdelmassih, a série escrita por Maria Camargo e dirigida por Amora Mautner, é um esmero em todos os sentidos. A produção conta a história de Roger Sadala (Antonio Calloni), um famoso e respeitado especialista em reprodução humana que abusa sexualmente de várias de suas pacientes. Assédio faz um painel da jornada deste personagem, do apogeu à queda. Paralelamente, mostra o trabalho da jornalista investigativa Mira (Elisa Volpato). Ela contata um grupo de mulheres abusadas pelo médico e passa a investigar os casos.

Sendo assim, a temática de Assédio é bastante oportuna em tempos em que a discussão sobre a cultura do estupro está na ordem do dia. E a minissérie acerta ao trazer o ponto de vista feminino. Ela mostra, com muita competência, as devastadoras consequências de um abuso sexual na vida de uma mulher. A abordagem ganha credibilidade, tendo em vista que é inspirada num caso real. Além disso, esclarece e faz refletir, sem ser nem um pouco didática. Ao contrário. O texto é perturbador e envolvente.

Fugindo de qualquer vício de novela, Assédio tem uma narrativa não-linear que traz muito pouco de uma atração televisiva tradicional. Ou seja, não é simplesmente uma produção da Globo exibida pela internet. Na verdade, é um produto pensado para a plataforma ao qual é exibida.

Por isso mesmo, os primeiros episódios fogem da obrigação de oferecer ganchos poderosos. Ao contrário. Assédio começa quase como uma colcha de retalhos, com situações quase isoladas, dentro de um vai-e-vem temporal. Apenas entre o terceiro e quarto episódio as histórias começam a se unir e ganhar ritmo. Ou seja, a trama foi pensada para um público acostumado a assistir séries numa tacada só. “Maratonar” Assédio amplifica a experiência de assisti-la.

Ao exibir o primeiro episódio de Assédio na TV aberta, a Globo mostra que não medirá esforços para emplacar sua plataforma de streaming. A experiência se junta à exibição de The Good Doctor na Tela Quente e à criação do Cine GloboPlay, com a exibição de filmes disponíveis no serviço. Tais fatos são, na verdade, grandes propagandas do GloboPlay. Ao mostrar, na TV, o primeiro episódio de Assédio, a Globo quer instigar seu público a acompanhar a série, tentando angariar novos assinantes. É uma experiência válida.

E esta nova janela para a exibição de séries chega num momento bem interessante da produção global. Isso porque a teledramaturgia da Globo vive uma fase de contrastes. As tradicionais novelas optam por narrativas cada vez mais simples (algumas até simplórias). Assim, as novas narrativas ficam relegadas ao pouco espaço reservado às séries na linha de shows. Daí a importância do investimento no GloboPlay. Além de turbinar seu serviço de streaming, a Globo ainda investe em produtos de grife, com muito apelo comercial fora do país. Ou seja, o canal tem uma visão global e multimídia acerca de suas produções. Sem dúvidas, um acerto.

André Santana

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7 Comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. A Globo agora inverteu ne? Ate entao, estreava suas series no globoplay para estrear depois na Globo, isto eh, queria migrar o publico de internet para a tv aberta. Com Supermax foi assim. Agora ela faz um avant-premiere na Tela Quente da Globo suas series da globoplay, tentando migrar parte do publico da tv aberta p a plataforma globoplay.

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    1. Pois é! É que agora a ideia é fazer da plataforma uma produtora de conteúdo, e não apenas "repetidora". Está seguindo os passos da Netflix, que surgiu apenas com conteúdo comprado e agora é produtora de sucesso.

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  3. Olá, tudo bem? Sobre o post anterior: Ueeeeeeeeba!!!!!Saudades eternas do Hugo e até da Maldícia kkkk.... O prédio da CNT aqui em São Paulo foi desativado. Lamentável. Está com placa de aluga. Aliás, tenho que tirar uma foto desse fato. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

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    1. Oi Fabio! Eu também amaaaaava o Hugo! É muito triste ver o que a CNT se tornou, depois de ter feito tanta coisa boa!

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  4. Me parece que a Globo tem pensado, além de tentar fortalecer seu produto (e seu lucro) na internet, tentar tipos diferentes de narrativas em suas séries; mas a impressão que passa é que a TV (ou as pessoas que assistem) ainda valoriza(m) mais algo menos denso, de mais fácil "digestão" na hora de assistir. Uma série como essa, sendo exibida na TV direto, talvez tivesse menos audiência. Até que Assédio trata de um caso de muita repercussão, então poderia causar barulho, mas no geral, algo de maior densidade tem sido desprezado, ultimamente tem sido assim, pelo menos.

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    1. Eu acredito que Assédio tem apelo para a TV aberta. Mas concordo com você. O público de TV aberta é muito heterogêneo, e uma narrativa mais elaborada nem sempre conquista todo mundo. O bom da GloboPlay é isso: sem as amarras da TV aberta, se torna um espaço mais criativo. Torço pra que dê certo.

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