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SBT dá passo ousado com criação de novos canais, mas precisa se concentrar na emissora principal

SBT Kids
SBT Kids (reprodução)

O SBT vive um momento de contradição. Enquanto a emissora tradicional sofre com quedas sucessivas de audiência e a falta de uma identidade clara no horário nobre, a direção decidiu apostar na criação de dois novos canais segmentados: o SBT Kids e o SBT News. A iniciativa, embora ousada, levanta questionamentos sobre prioridades, estratégia e visão de futuro.

Nos últimos anos, a emissora fundada por Silvio Santos tem perdido espaço de forma consistente para suas principais concorrentes, Globo e Record, além de enfrentar a ascensão de plataformas de streaming e do YouTube. Nesse cenário, a crise de identidade do SBT não se limita apenas à grade de programação, mas reflete uma dificuldade em compreender as transformações do consumo de mídia.

Isso fica claro se observarmos a grade de programação atual, cada vez mais confusa. A emissora tenta fisgar o público pela nostalgia, apostando em reedições de clássicos como Aqui Agora, além de reprises de novelas mexicanas já reapresentadas à exaustão, como Maria do Bairro, Rubi e Coração Indomável. Neste contexto pouco convidativo, parece certo lançar canais segmentados?

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Novos canais

Curiosamente, Silvio Santos nunca pareceu muito disposto a ir além do tradicional SBT em seu projeto de televisão. Já Daniela Abravanel Beyruti, atual comandante da estação, parece disposta a apostar em novas plataformas. No ano passado, lançou o +SBT. Para 2025, a ideia é apostar em dois novos canais: um infantil e um de notícias.

O lançamento do SBT Kids pode parecer um passo natural, já que a emissora sempre teve forte vínculo com o público infantil, seja com programas como Bom Dia & Cia ou com as novelas para os pequenos. Porém, a decisão chega num momento em que o conteúdo infantil já está consolidado em serviços digitais sob demanda, como Netflix, Disney+ e YouTube Kids. Concorrer com esse ecossistema exige mais do que nostalgia: pede inovação e linguagem adequada ao público atual.

Já o SBT News representa uma tentativa de consolidar a presença jornalística da casa. O telejornalismo da emissora, tradicionalmente ofuscado por Globo e Record, vem tentando se reposicionar na era digital. No entanto, não basta criar um novo canal de notícias; é preciso oferecer credibilidade, consistência editorial e independência, fatores que nem sempre caminharam ao lado da trajetória jornalística do SBT. Além disso, a TV brasileira está cheia de canais de notícias, como GloboNews, BandNews, RecordNews, CNN Brasil, Times Brasil, Jovem Pan News e tantos outros. Há espaço para mais?

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Sem rumo

Essas apostas paralelas soam, para muitos, como uma tentativa de dispersar esforços em vez de resolver o problema central: a própria emissora-mãe perdeu o rumo. A televisão aberta do SBT carece de uma narrativa própria, com formatos repetitivos, reprises cansativas e ausência de grandes produções originais que se conectem com a realidade do público.

Enquanto isso, a concorrência avança. A Record consolidou um perfil mais voltado ao jornalismo e ao entretenimento popular, e a Globo, mesmo enfrentando quedas de audiência, preserva a força de sua dramaturgia e a solidez de seus produtos. O SBT, em contrapartida, parece oscilar entre tentar resgatar o passado e ensaiar passos tímidos no futuro, sem uma bússola clara.

Investir em novos canais pode dar a impressão de modernidade e diversidade, mas também pode significar fragmentação. Em vez de concentrar esforços na revitalização da grade principal, a emissora parece apostar em nichos que podem não ter fôlego suficiente para sustentar-se comercialmente. O risco é criar mais vitrines apagadas em vez de uma marca forte.

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Crise sem fim

A falta de planejamento estratégico fica ainda mais evidente quando se observa a inconsistência da marca SBT. A emissora tradicional parece ter perdido a capacidade de produzir programas capazes de gerar repercussão nacional. Criar novos braços digitais ou segmentados, sem resolver essa lacuna, soa como maquiar um problema estrutural.

O próprio legado de Silvio Santos, pautado em carisma, proximidade com o público e inovação dentro do popular, parece estar sendo deixado de lado. No lugar da ousadia criativa, o que se vê é um excesso de apostas dispersas, que pouco contribuem para recuperar a relevância da televisão aberta do SBT.

É verdade que o futuro da mídia passa pela segmentação e pela multiplicação de plataformas. Mas essa tendência só se sustenta quando há um centro sólido de onde partem os novos projetos. O SBT, hoje, corre o risco de transformar-se numa rede secundária dentro do próprio conglomerado, se não encontrar um caminho claro para sua programação principal.

Claro, é ótimo perceber que o SBT está se movimentando após anos de total inércia. Entretanto, fica a dúvida: não seria mais prudente, neste momento, concentrar esforços na emissora tradicional antes de partir para novas apostas? É aguardar pra ver onde isso vai dar.

André Santana

27/09/2025

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1 Comentários

  1. O SBT entrando no segmento que as 3 grandes emissoras já estão navegando faz tempo , Globo e Band já possuem vários canais sob suas tutelas , de diversos segmentos, e A Record apesar de tratar como um grande ''quarto da bagunça'' ainda tem a Record News e a Rede Família , de abrangência parcial pelo país. o SBT era a única emissora que sempre se manteve apenas com o canal principal. Porém hoje em dia já está meio atrasada essa entrada nesse meio, e ainda assim de uma forma meio errônea,seria uma manobra mais inteligente, criar um canal de nostalgia , no estilo do +Saudade, exibindo antigos programas de SS e de outros apresentadores como Gugu e Hebe, além de resgatar séries e novelas antigas, entre outros programas, no estilo do que foi o Viva da Globo, por que um canal jornalístico e outro infantil jogam contra a emissora, pois já são segmentos onde o SBT dedica grande parte da sua grade durante a semana.

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