Final melancólico de A Caverna Encantada fecha ciclo no SBT

Anna (Mel Summers) e Moleza (Fernando Gomes) em A Caverna Encantada (divulgação)

O último capítulo de A Caverna Encantada foi ao ar no final da tarde desta sexta-feira, 5, no SBT, e pouca gente viu. A trama criada por Íris Abravanel se despede depois de pouco mais de um ano no ar, registrando a baixa média geral de 3 pontos no Kantar Ibope Media e enfrentando várias mudanças de horário.

Foi o final melancólico de um ciclo que já rendeu muitas vitórias ao SBT. Entre 2009 e 2011, a emissora criada por Silvio Santos amargou baixos índices de audiência com novelas voltadas ao público adulto, como Revelação (2008), Vende-se um Véu de Noiva (2009), Amor e Revolução (2011) e Corações Feridos (2012).

Na época, o canal considerou extinguir de vez sua teledramaturgia. No entanto, optou por apostar suas fichas numa nova versão de Carrossel (2012), mudando o foco de suas novelas. A aposta se revelou certeira, já que os alunos da Escola Mundial caíram nas graças do público, dando início a uma série de novelas voltadas ao público infantil no SBT. Além da alta audiência, as tramas para crianças também oportunizaram faturar com licenciamento, aumentando o cofrinho da emissora.

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História

É válido considerar que o SBT já conhecia a força das novelas infantis. Nos anos 1980, a emissora alcançou sucesso com a mexicana Chispita. Já na década de 1990, a mexicana Carrossel e a coprodução entre Brasil e Argentina Chiquititas tornaram-se fenômenos. Com o fim da história dos órfãos do Raio de Luz, o SBT optou por reservar a faixa das 19h a novelas estrangeiras para crianças.

Mexicanas como O Diário de Daniela, Gotinha de Amor, Amy - A Menina da Mochila Azul, Viva as Crianças e Carinha de Anjo sustentaram bons índices, demonstrando a força deste tipo de produção. Entretanto, após a exibição de Alegrifes e Rabujos, em 2004, a emissora encerrou o ciclo das novelas infantis mexicanas, substituindo a trama pela adulta Rubi.

A mudança tem a ver com a parceira Televisa. Na mesma época, a empresa mexicana constatou a queda de audiência deste tipo de produção e optou pelo seu encerramento. "Decidimos que já não vamos mais produzir novela infantil, mas não vamos nos desfazer do elenco mirim que temos. Eles ingressarão em histórias de adultos. Isso não significa que a Televisa Crianças vai desaparecer. Atualmente, contamos com a atenção de 85% do público infantil do país. Ainda teremos na grade de programação produtos destinados aos pequenos, como Praça Sésamo, o reality show Código F.A.M.A. e alguns programas infantis", explicou Rosy Ocampo, na época a produtora responsável pela Televisa Crianças, de acordo com matéria publicada por OFuxico em outubro de 2005.

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Sobrevida

Curiosamente, no Brasil, as novelas para crianças ainda demonstravam força. O SBT deixou de exibir tais produções, mas, em 2005, quem entrou no segmento foi a Band, que apostou suas fichas em Floribella. A trama, baseada numa história argentina, registrou bons índices de audiência para os padrões da emissora, e ainda rendeu muito dinheiro com licenciamento. Tanto que ficou dois anos no ar.

Já no SBT, a força foi demonstrada pela versão nacional de Carrossel. A saga da professora Helena (Rosane Mulholland) agradou o público e impulsionou a grade da emissora, que vinha numa crise de audiência na época. Assim, a emissora seguiu produzindo para o público infantil, com muito sucesso.

Vieram a nova versão de Chiquititas (2013) e as versões brasileiras de Cúmplices de um Resgate (2015) e Carinha de Anjo (2016), também exitosas. Na sequência, o canal abandonou os textos de folhetins importados e apostou na adaptação do romance Polyanna, com As Aventuras de Poliana (2018), também bem-sucedida.

Porém, após a pandemia de covid-19, o canal passou a registrar baixos índices de audiência com suas novelas. Poliana Moça (2022), A Infância de Romeu e Julieta (2023) e A Caverna Encantada derrubaram o horário a índices críticos. Por isso mesmo, o SBT encerrou sua teledramaturgia, prometendo retomá-la em outros moldes no momento oportuno. De acordo com veículos especializados, o canal pretende apostar em coproduções e novos formatos. A ver.

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Mudanças

Ao que parece, o SBT vive hoje o que a Televisa viveu 20 anos atrás. A gigante mexicana deixou de apostar no público infantil quando suas novelas perderam audiência. Agora, é a vez da rede dos Abravanel tomar a mesma decisão.

Ou seja, parece que a audiência destas novelas têm prazo de validade. A princípio, parece estranho falar em desgaste da fórmula, tendo em vista que o público infantil se renova. Mas cabe salientar que o público se renova e este novo público tem novos interesses. Muitos não assistem TV e estão no streaming - e assistindo justamente as novelas do SBT, vide o sucesso delas nas plataformas.

O SBT, por outro lado, constatou tal mudança e tentou se adaptar, fechando parcerias com plataformas e tentando ampliar o público das tramas. A Infância de Romeu e Julieta, por exemplo, tinha um núcleo adulto de peso, uma história central mais pré-adolescente e uma trama paralela mais infantil. Como não deu certo, o canal resolveu voltar ao lúdico com A Caverna Encantada, uma história repleta de seres fantásticos. Também não funcionou.

Cabe salientar ainda que o SBT mudou o horário de A Caverna Encantada e a substituiu, no horário nobre, pela mexicana adulta As Filhas da Senhora Garcia, que elevou o público da faixa. Esses resultados devem ditar os rumos da teledramaturgia do canal nos próximos anos. É esperar para ver.

André Santana

06/09/2025