Thiago Lacerda e Ana Paula Arósio em Terra Nostra (divulgação) |
No ar com o remake de Renascer, Benedito Ruy Barbosa foi um dos mais importantes autores de novelas do horário nobre da Globo nos anos 1990. O novelista emplacou uma trinca de sucessos na década, formada por Renascer (1993), O Rei do Gado (1996) e Terra Nostra (1999).
Essa última era a mais ambiciosa das tramas já escritas pelo autor na emissora. Como se tratava da novela que marcaria a chegada do ano 2000, época em que havia toda uma celebração pelos 500 anos da “descoberta” do Brasil, a emissora planejava uma saga épica, que contasse uma boa parte desta história.
Com isso, a chegada dos imigrantes italianos ao país seria apenas o pontapé inicial de uma novela que seria dividida em três fases, todas com a mesma duração, mas com várias mudanças de história e de elenco a cada passagem de época. A ideia era chegar com a história no ano 2000, mostrando os descendentes de Matteo (Thiago Lacerda) e Giuliana (Ana Paula Arósio). Mas isso não aconteceu.
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Novela “três em um”
Maria Fernanda Cândido e Raul Cortez em Terra Nostra (divulgação) |
Em 23 de maio de 1999, o jornal O Globo dava as primeiras informações sobre Terra Nostra, que estrearia no segundo semestre daquele ano substituindo Suave Veneno. A matéria comparava a nova novela a Os Imigrantes (1981), clássico que Benedito Ruy Barbosa emplacou na Band.
“Superprodução dividida em três fases, a história versará sobre a imigração italiana, um tema recorrente nas novelas de Benedito desde Os Imigrantes, exibida pela Rede Bandeirantes em 1981. Com a ajuda da pesquisadora Angela Marques da Costa, o autor se debruça sobre livros e jornais antigos para escrever a trama. Cada etapa cobrirá um período de cerca de 30 anos”, dizia a matéria.
“É uma loucura, nunca tinha feito isso na minha vida”, comentou Benedito. “A minha intenção é cativar o público com as tramas românticas no começo e depois passar a tratar também dos acontecimentos que marcaram o país, do começo da República até os dias de hoje”, completou.
Ainda segundo a matéria, cada uma das três fases teria um subtítulo. A primeira, de acordo com o autor, poderia se chamar Esperança ou Travessia. Curiosamente, os dois títulos foram utilizados em novelas anos depois.
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Mudanças
Mas, ainda antes de Terra Nostra estrear, os planos começaram a mudar. Em 30 de agosto de 1999, o Jornal do Brasil informava que a primeira fase da novela não teria mais 80 capítulos, como estava previsto inicialmente, mas sim 120. A ideia era que a mudança de fase não coincidisse com as festas de final de ano.
Em 10 de outubro de 1999, quando a trama já estava no ar, o jornal O Globo adiantava detalhes dos planos de Benedito para a segunda fase. O autor revelou que pensava em colocar Ana Paula Arósio interpretando a neta de Giuliana e Marco Antônio (Marcello Antony). A jovem teria um romance com seu próprio tio, justamente o filho que a italiana teve com Matteo no início da história - que “virou” o Juanito.
Além da troca de atores, as mudanças de fase também trariam artistas maquiados para parecerem mais velhos. O diretor Jayme Monjardim, inclusive, já testava novas tecnologias para fazer esse trabalho.
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Desistiu
Em 25 de novembro de 1999, o jornal O Estado de S. Paulo informava que Benedito Ruy Barbosa havia desistido de dividir Terra Nostra em fases.
"Vou fazer uma novela só com o mesmo elenco até o final", afirmou o autor.
Um dos temores era que o público rejeitasse as mudanças, já que os personagens iniciais de Terra Nostra haviam caído nas graças dos espectadores. O público aprovou Giuliana, Matteo e cia, e não queria que eles deixassem a história.
"Dessa vez, o público não quer abrir mão de ninguém do atual elenco", afirmou o veterano.
Ainda segundo o Estadão, foram as pesquisas feitas pela direção da emissora que detectaram o gosto do público. Thiago Lacerda era o preferido, seguido de muito perto por Ana Paula Arósio, Raul Cortez (Francesco) e Maria Fernanda Cândido (Paola).
Ainda assim, Benedito planejava que a novela atravessasse 10 anos na vida dos personagens, chegando a 1917. Mas nem isso acabou acontecendo.
Por fim, Benedito Ruy Barbosa teve a ideia de continuar sua história numa outra novela. Chamada de Uê Paisano, a trama seguinte do autor contaria o que aconteceu com os descendentes de Giuliana e Matteo. Por isso, inclusive, que a palavra “fim” não aparece no final de Terra Nostra, mas sim “essa história não termina aqui”.
Mas, depois, o autor acabou desistindo da ideia e escreveu outra novela sobre a imigração italiana, mas sem nenhuma relação com Terra Nostra. Foi Esperança (2002), que acabou se revelando um fiasco. O primeiro fiasco da carreira de sucesso do autor.
André Santana
29/02/2024
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