Fim das novelas? Em crise, Globo viveu situação semelhante há 21 anos

Cauã Reymond e Barbara Reis em Terra e Paixão (divulgação/Globo)

Em 2023, a Globo finalmente viu a audiência da faixa das sete subir com Vai na Fé. No entanto, a alegria durou pouco. Com a estreia de Fuzuê, o público do horário caiu drasticamente, fazendo a emissora traçar estratégias para reverter a fuga da audiência.

Com a estreia de Elas por Elas, a situação piorou. A trama escrita por Thereza Falcão e Alessandro Marson, baseados na história de Cassiano Gabus Mendes, afundou a faixa das seis. Com isso a entrega ficou mais baixa para a trama das sete, prejudicando as duas faixas de novelas.

Antes disso, porém, a emissora penava com o fraco desempenho de Terra e Paixão. A trama escrita por Walcyr Carrasco até cumpriu a missão de elevar os números do horário, já que Travessia havia afundado a faixa após o êxito de Pantanal. Nos mais recentes capítulos, o folhetim ainda bateu seu próprio recorde de audiência, sinalizando que a história ainda pode crescer mais até o fim, marcado para janeiro. Porém, ainda assim, nem de longe Terra e Paixão lembra os sucessos que Walcyr Carrasco obteve no horário. 

Continua depois da publicidade

Crise?

Sheron Menezzes, Bella Campos e Samuel de Assis em Vai na Fé (divulgação)

Com as três faixas de novelas da Globo em crise, já começam as análises de que os folhetins são produtos à beira da extinção. Há quem diga que ninguém mais assiste novela, que a moda agora são as séries, que ninguém mais tem tempo para acompanhar histórias tão longas, etc etc etc.

Mas não é bem assim. Mesmo em baixa, os números das novelas mostram que ainda tem muita gente que tem, sim, tempo para acompanhar histórias longas. E, recentemente, tramas como Mar do Sertão (2022), Amor Perfeito (2023) e a já citada Vai na Fé mostram que que o público está, sim, disposto a acompanhar uma história que ache interessante.

O streaming avançou sim, é verdade. Dados do Kantar Ibope Media mostram que a soma da audiência de plataformas como YouTube, Netflix, Globoplay e cia bela já ocupa o segundo lugar no ranking da audiência, à frente de canais tradicionais como Record, SBT e Band. Em alguns momentos, inclusive, o streaming lidera, como bem apontou uma análise do jornalista José Armando Vannucci.

Continua depois da publicidade

Mudança de hábito

Ana Paula Arósio e Reynaldo Gianecchini em Esperança (divulgação/Globo)

É fato que a pandemia e o avanço do streaming mudou os hábitos dos espectadores. A própria Globo tem consciência disso, tanto que considera Pantanal, que obteve 29,6 de média geral, um sucesso. Mas, se compararmos com Amor de Mãe (30,8) ou A Dona do Pedaço (35,9) - o último grande sucesso da faixa das nove -, notamos que as métricas mudaram. A emissora, atualmente, espera que um sucesso alcance os 30 pontos.

Além disso, é preciso considerar que crises de audiência de novelas acontecem de tempos em tempos. É cíclico. Há 21 anos, o canal viveu um período parecido, quando as novelas Sabor da Paixão (2002), O Beijo do Vampiro (2002) e Esperança (2002) ficaram bem abaixo do que o canal esperava. Mas, no ano seguinte, veio a virada: Mulheres Apaixonadas (2003), Kubanacan (2003) e Chocolate com Pimenta (2003) reverteram a crise.

Outra prova de que novela ainda é considerada um produto premium na TV brasileira está justamente no fato de o streaming se render ao formato. Todas as Flores foi um êxito do Globoplay e vem indo bem na TV aberta. HBO Max deve lançar Beleza Fatal e Dona Beja no ano que vem. E a Netflix “atacará” com Pedaço de Mim. 

Ou seja, a novela está passando por um período de transformação, assim como o próprio hábito de consumo e o mercado também se transformam. O mesmo deve acontecer com as novelas da Globo, Atualmente, o canal exibe tramas que não seguraram o público, mas não é impossível que a emissora acerte o passo em suas próximas produções. Claro, dentro dessa nova realidade.

André Santana

11/11/2023