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Debate "ciência x religião" é o grande acerto de "O Clone"

Albieri (Juca de Oliveira) e Ali (Stenio Garcia) em O Clone
Albieri (Juca de Oliveira) e Ali (Stenio Garcia) em O Clone (divulgação)

Em sua quarta exibição na TV, O Clone encerrou mais uma reprise no Vale a Pena Ver de Novo mostrando que alguns dos temas abordados por Gloria Perez na trama seguem atuais. Mesmo que a discussão sobre clonagem humana já não esteja mais tão em alta, como estava entre 2001 e 2002, ainda assim seguiu interessante acompanhar esta dicotomia ciência x religião.

Para quem gosta de um bom novelão, as idas e vindas de Jade (Giovanna Antonelli) e Lucas (Murilo Benício) suprem o lado mais folhetinesco em O Clone. Mas é a relação entre Albieiri (Juca de Oliveira), o cientista ateu, e Ali (Stenio Garcia), o muçulmano submisso a Deus, que dá à novela uma profundidade interessante.

Albieri é apresentado como um cientista idealista, cujo passado de perdas o fez abandonar a fé. Ele chegou a ser seminarista, mas a morte de seu grande amor fez com que ele deixasse a vida religiosa e abraçasse a ciência. A partir daí, Albieri passou a nutrir uma obsessão em “vencer a morte”, acreditando que, com a clonagem, ele pode fazer as pessoas que ama viverem para sempre.

É um personagem bonito e controverso sob vários aspectos. Afinal, é um fato íntimo e pessoal que o leva às experiências científicas. Mas, ao mesmo tempo, ele defende que suas pesquisas não são apenas para si, mas sim algo que ele deixará como legado para a humanidade. Há um misto de vaidade, de idealismo e até de falha de caráter (afinal, ele envolve vidas inocentes em suas pesquisas) em Albieiri. Juca de Oliveira, aliás, é brilhante na construção deste personagem tão complexo.

Do outro lado há Ali, um muçulmano fervoroso que segue à risca os ensinamentos do Alcorão. Líder de uma grande e religiosa família, Ali prega o ensinamentos do profeta Maomé e acredita que Alah é o grande criador de todas as coisas, e que somente Ele tem o poder de definir o destino da humanidade.

Desta amizade improvável, surgem os grandes diálogos de O Clone. Albieiri defende o ponto de vista da ciência, e do quanto o trabalho científico colabora com o desenvolvimento da humanidade. Já Ali não se coloca contra a ciência, mas acredita que há um limite quando a ciência tenta refazer a criação de Alah. As conversas entre Albieri e Ali permeiam toda a trama e nunca têm uma conclusão, afinal, é um debate que permanece até os dias de hoje.

O debate fica ainda mais rico quando um terceiro personagem surge: o padre Matioli (Francisco Cuoco). O sacerdote foi criado por acaso em O Clone, já que ele entrou justamente para substituir Ali nas conversas com Albieri. Durante as gravações da novela, o ator Stenio Garcia precisou se ausentar por vários capítulos, em razão de um problema de saúde, e Matioli surgiu para suprir esta ausência. Mas, depois que Ali volta, Matioli permanece, e traz um ponto de vista católico/cristão ao debate da obra.

Promover discussões como esta numa novela das nove sem parecer pedante foi um dos grandes trunfos de Gloria Perez na condução de O Clone. E o debate, aliás, também se estende à própria ciência, já que, durante toda a trama, são inseridos diferentes cientistas, com diferentes pontos de vista sobre o conflito ético que surge a partir da clonagem humana. Por mais inusitado que possa parecer, funcionou. E muito bem!

André Santana

21/05/2022

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2 Comentários

  1. Olá, tudo bem? Na minha opinião, O Clone é a melhor novela produzida pela TV brasileira neste milênio. Inshalá! Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

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