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Em 1997, Record apostava na minissérie trash "A Filha do Demônio"

Patrícia de Sabrit em cena de A Filha do Demônio
Patrícia de Sabrit em A Filha do Demônio (reprodução)

No dia 3 de março de 1997, a Record inaugurava sua teledramaturgia com a estreia da minissérie A Filha do Demônio. Não era bem a primeira produção na área da Record, afinal, o canal produziu novelas entre os anos 1960 e 1970. Mas essa era a “velha” Record, que pertencia à família Machado de Carvalho. A Filha do Demônio foi obra da “nova” Record, controlada por Edir Macedo a partir do início dos anos 1990.

A Filha do Demônio era a primeira produção da faixa Série Verdade, exibida na faixa das 20 horas. A proposta da faixa era exibir minisséries baseadas em depoimentos de fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus, ou seja, tramas com um profundo viés evangelizador. E a primeira trama já trazia um tema polêmico: o satanismo. 

Protagonizada por Patricia de Sabrit, que vivia o papel-título, e João Vitti, vivendo o próprio Cramulhão, A Filha do Demônio contou, em cinco capítulos, a história de uma menina cujo pai vendeu a alma dela ao diabo em troca de melhorar de vida. A menina cresce atormentada por demônios, afunda-se nas drogas e prostituição, revolta-se contra o pai, e só se salva quando encontra a igreja.

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A produção caracterizou-se pela produção tosca, com sérias restrições orçamentárias. Cenários toscos, atuações sofríveis, texto maniqueísta e tolo e muito humor involuntário marcaram A Filha do Demônio. A atração exibia cenas grotescas, como a menina bebendo sangue de cachorro, ou o capeta bebendo sangue de uma mulher num ritual satânico (que parecia se passar no inferno, mas, curiosamente, tinha um extintor de incêndio em cena). E a faixa Série Verdade seguiu com Olho da Terra, minissérie em 10 capítulos que mostrava uma senhora que fazia “trabalhos” para prejudicar a todos que odiava. Pra variar, não faltou desinformação e preconceito no trato de religiões de origem afro.

Depois disso, a teledramaturgia da Record produziu outras minisséries, como Por Amor e Ódio, exibida a partir de julho de 1997 e protagonizada por Gabriel Braga Nunes, e a faixa Caminhos da Esperança, que exibiu séries como Janela Para o Céu, Velas de Sangue, A Sétima Bala e O Desafio de Elias. 

No mesmo ano, veio Canoa do Bagre, uma produção em 79 capítulos que pode ser considerada a primeira novela da “nova” Record. Escrita por Ronaldo Ciambroni, dirigida por Atilio Riccó e com Othon Bastos e Gianfrancesco Guarnieri no elenco, a trama também tinha um fundo religioso, já que seus personagens frequentavam cultos da Igreja Universal.

Mas o sucesso na teledramaturgia da Record só viria de fato com Estrela de Fogo, novela que estreou em 1998 e era produzida pela JPO, produtora de José Paulo Vallone, que também era superintendente artístico da Record. A trama de Yves Dumont foi bem de Ibope e até ganhou uma segunda fase, estendendo-se até 1999. Em seguida, a JPO produziu Louca Paixão e Tiro e Queda. 

Já a partir de 2000, a própria Record assumiu as produções de novelas, lançando Marcas da Paixão, Vidas Cruzadas e Roda da Vida. Com o fiasco desta última, a emissora interrompeu a produção de novelas, retomando em 2004 com a fracassada Metamorphoses, em parceria com a Casablanca. Na sequência, a emissora produziu seu remake de A Escrava Isaura, fazendo as pazes com o Ibope e iniciando sua nova fase na teledramaturgia, com tramas contemporâneas e com uma pegada policial intensa.

Esta fase durou até 2014, e chegou ao fim quando novelas como Máscaras, Pecado Mortal e Vitória não emplacaram. Foi aí que a dramaturgia religiosa voltou com força a partir de Os Dez Mandamentos, em 2015, que iniciou a safra de novelas bíblicas, no ar até hoje.



André Santana 

28/12/2023

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5 Comentários

  1. Gente eu quero ver essa pérola kkkkk
    Acho que vai demorar pra Record fazer novelas contemporâneas visto que a audiência que Genisis teve.
    O que é uma pena.

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  2. Essa fase da Record , no final dos anos 90 é até pouco lembrada e meio obscura, onde a mesma ainda não lutava em pé de igualdade com as outras emissoras pela audiência ( salvo exceção de Raul Gil e Ratinho, os únicos programas de real sucesso na época), eu já conhecia essa série e outras da época , são realmente sofríveis em qualidade , tanto que até a própria Record práticamente ignora essa fase , tirando "vidas cruzadas", nada dessa época é sequer citado ou reprisado, menção honrosa a Metamorphoses kkk a novela que me vem a memória pela atípica exibição no domingo, espero que tenhamos mais posts falando sobre essa época de produções da Record, pois existe mto material que é pouco lembrado e vale citação.

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    1. O Edir tinha um projeto muito ambicioso, desde que adquiriu queria que a emissora fosse grande. Mas foi fazendo isso aos poucos pois sabia que não seria fácil pegar uma emissora quase falida e fazê-la competir em pé de igualdade. Foi um trabalho feito ano a ano, e de certa forma deu certo.

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  3. Olá, tudo bem? A Filha do Demônio é um clássico kkkkkk Evidentemente, lembro. Rs... Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

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  4. Os anos 90 da Record foram uma época em que a emissora assumia que servia pra fazer propaganda da Igreja. Muitos programas da IURD como O Despertar da Fé e 25ª Hora eram tratados como programas da Record e até apareciam em chamadas e vinhetas de fim de ano. Se formos parar pra pensar, não é muito diferente da Record dos anos 2020

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