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Além da trama frouxa, "Fina Estampa" envelheceu mal

 

Já falamos aqui neste período, e também em 2012, que Fina Estampa tem uma trama central bastante problemática. A rivalidade entre Griselda (Lília Cabral) e Tereza Cristina (Christiane Torloni) começa interessante, já que Pereirão é uma ótima personagem, e a megera é uma vilã bem divertida.

No entanto, a trama degringola depois que Griselda ganha na loteria. A personagem perde originalidade, já que o “jeito Pereirão de ser” vai sendo diluído ao longo dos capítulos, e perde o protagonismo, já que Tereza Cristina passa mais tempo tentando proteger um segredo furado do que agindo contra a rival. Com isso, a trama central perde foco e se torna um “gato e rato” despropositado e pouco criativo.

Mas a falta de trama não é o único problema de Fina Estampa. A “edição especial” promovida pela Globo, que terminou ontem, 18, também mostrou que a novela envelheceu muito mal. Há uma despretensão natural de não se levar a sério, e isso fica bem claro. A proposta da novela é mesmo o non sense, bem entendido. Porém, mesmo o non sense precisa de um mínimo de responsabilidade. O que não se viu nesta novela.

O canal Coisas de TV, do YouTube, comandado por Fabio Garcia e Larissa Martins, publicou um vídeo bastante interessante esta semana, e eu preciso fazer coro a eles. Fina Estampa, mesmo em meio à sua despretensão, tentou tocar em assuntos sérios, e falhou miseravelmente em vários deles. Pior: os tratou de uma maneira tão irresponsável que acabou promovendo um desserviço. Veja o vídeo clicando AQUI (veja mesmo, é bem legal!).

A violência contra a mulher, por exemplo. Baltazar (Alexandre Nero) era um marido violento, que bateu em Celeste (Dira Paes) várias vezes. Mas, ao formar uma dupla cômica de gosto duvidoso com Crô (Marcelo Serrado), o personagem caiu nas graças da audiência. E acabou perdoado. Tanto que, na reta final, ele volta a bater em Celeste. Ela revida e o expulsa de casa. Ele entra em choque, toma uma chuva na cabeça e é consolado por Crô. O mordomo, então, pede a Celeste que o aceite de volta. E ela aceita, com a condição de que ele terá que reconquistá-la. Como tratar um tema tão sério como a violência contra a mulher desse jeito?

Outro tema apontado pelo Coisas de TV foi o racismo do personagem Albertinho (André Garolli). Ele passou boa parte da trama tratando Dagmar (Cris Vianna) muito mal. Capítulos depois, ele revelou que sua ex-mulher era negra e o trocou por outro, e é esse o motivo de ele tratá-la mal. Ou seja, a novela “justificou” porcamente uma atitude que não é somente condenável do ponto de vista ético, mas é também um crime. Racismo não tem justificativa.

A trama do professor Alexandre (Rodrigo Hilbert) também é um horror. O rapaz é um assediador de alunas. E os alunos da faculdade onde Antenor (Caio Castro) estuda tratam de preparar uma armadilha para pegá-lo em flagrante. E conseguem um vídeo que confirma que Alex assedia suas alunas. Mas não o denunciam. Simplesmente pedem para que ele não faça mais isso, ou mostrariam o vídeo à reitoria. Bizarro!

Isso sem falar no caso de Fabrícia (Luciana Paes), uma mulher trans que trabalha como “marida de aluguel”. Assim que descobre que a jovem é trans, Quinzé (Malvino Salvador) trata de expô-la diante de toda a empresa de Griselda. Claro que, em 2011, o debate sobre transexualidade ainda não ocupava tanto espaço quanto hoje. Mesmo assim, tratar o tema em tom de piada já não era aceitável naquela época. Hoje em dia, então, é algo condenável.

Por essas e outras, Fina Estampa figura como uma das novelas mais controversas da carreira de Aguinaldo Silva. O autor, que costumava usar de um humor ácido e muita crítica política e social em suas principais obras, desta vez nivelou por baixo. Há um claro apelo popular ali, o que justifica o seu sucesso. Mas o tom rasteiro com que levou toda a novela a coloca como um folhetim bastante equivocado.

André Santana

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4 Comentários

  1. Essa novela imagem hoje tinha um humor ultrapassado tipo o zorra antigo que zoava gays...podiam ter reprisado a favorita bem melhor

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    1. Sou fã fã fã de A Favorita! Vi duas vezes, e ensaiando pra ver a terceira!

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  2. Quero José Mayer de volta às novelas inéditas

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