O bom desempenho de Pega Pega,
atual cartaz das sete da Globo, deixa claro que a atual receita do sucesso no
horário são as tramas de forte pegada infanto-juvenis. Tramas de temática leve,
com histórias simples, roteiro quase didático, feitas para se assistir em
família. É só observar os últimos sucessos do horário: Totalmente Demais era quase um conto de fadas, enquanto Haja Coração também tinha forte apelo
infantil. Apenas Rock Story destoou
da tendência, com uma história mais séria e com mais camadas.
Não que sejam ruins. Tramas como Pega
Pega cumprem bem a sua missão, de ser apenas um entretenimento
descompromissado. Sem nenhuma pretensão, estas tramas encontram um público
cativo, e o bom retorno da audiência é uma prova incontestável de que é isso
que os espectadores querem ver.
Mas fazem falta aquelas boas comédias do passado, com temáticas mais
adultas. Nomes como Silvio de Abreu, Cassiano Gabus Mendes e Carlos Lombardi
fizeram do horário um oásis de comédia rasgada e despudorada, com tramas que
também agradavam à plateia infantil, mas tinham uma pegada um tanto mais
arrojadas que as atuais produções. Usavam e abusavam da ironia, do sarcasmo e
das alegorias.
Silvio de Abreu é hoje Diretor de Teledramaturgia Diária da Globo e não
deve mais retornar ao horário, até porque suas últimas incursões ali, As Filhas da Mãe e o remake de Guerra dos Sexos, não emplacaram (embora
As Filhas da Mãe tenha sido muito
boa, na minha humilde opinião). Cassiano Gabus Mendes nos deixou após O Mapa da Mina, uma das mais fracas de
sua galeria de sucessos. Na verdade, os dois veteranos ditaram moda por ali nos
anos 1980, assinando verdadeiros clássicos da teledramaturgia.
Seus herdeiros mais diretos neste estilo tragicômico, sem dúvidas, foram
Carlos Lombardi e Miguel Falabella. O primeiro reinou no horário por anos,
trazendo tramas divertidíssimas, rápidas, espertas e cheias de camadas. Bebê a Bordo, Quatro por Quatro, Uga Uga
e Kubanacan foram novelas ousadas,
que imprimiram no horário um estilo muito peculiar. Todas sucessos de
audiência, embora tenha quem as odeie. Sua última novela do horário, Pé na Jaca, não foi bem-sucedida, mas
foi uma das melhores novelas de sua carreira. Ali, o autor soube misturar, com
muita competência, o dramalhão familiar com seu estilo de humor, além de lotar
a obra de referências pop.
Miguel Falabella teve uma carreira menor por ali, mas também soube, como
poucos, fazer comédias de grande qualidade. Sua primeira novela, Salsa e Merengue, assinada com Maria
Carmen Barbosa, foi também a sua melhor, pois ali estavam o melodrama e o humor
popular no melhor sentido da palavra. Falabella é um grande criador de tipos, e
Salsa e Merengue era lotada de
personagens marcantes, como a Teodora de Débora Bloch, ou a engraçada
trambiqueira Ruth, de Laura Cardoso. O autor voltaria ao horário ainda com A Lua me Disse e Aquele Beijo, tramas que não fizeram tanto sucesso quanto a
primeira, mas também gostosas e com uma pegada bem popular e divertida.
Na faixa das sete, também reinou, por um certo período, o agora sumido
Antonio Calmon. Calmon não era tão ácido quanto Falabella e Lombardi, mas
algumas de suas obras conseguiram mesclar bem a trama infantilizada com uma
comédia mais elaborada, como Vamp, Um
Anjo Caiu do Céu e O Beijo do Vampiro.
O autor também mandou bem no melodrama com Cara
& Coroa, mas errou a mão feio em Começar
de Novo e Três Irmãs. Desde esta
última, não escreve mais novelas. Apresentou uma nova trama recentemente, Barba Azul, mas ela não foi aprovada
pela Direção de Dramaturgia.
Miguel Falabella hoje se dedica à criação de séries, um segmento no qual
parece se dar melhor. Já Carlos Lombardi viu sua última sinopse ser rejeitada
na Globo, e acabou migrando para a Record, onde assinou a também ótima Pecado Mortal, um drama das 22 horas com
boas pitadas de comédia. Recentemente, deixou a emissora e, agora, pretende se
dedicar a projetos na TV paga. Os dois não deixaram “herdeiros”, e as novelas
das sete vão perdendo, cada vez mais, sua característica subversiva. Uma pena.
Fazem falta.
André Santana
6 Comentários
Discordo sobre o Falabella, mas concordo sobre o Lombardi. Torcer pra que o Silvio de Abreu o queira e convenca a Globo, ja que a direcao nao perdoa quem quebra o contrato. Queria ve-lo escrever Joao ao Cubo, que tinha sido aprovada mas Lombardi, ansioso, queria voltar logo no ar e preferiu ir pra Record. Alem do proprio Silvio, tem a Gloria Perez, que eh amiga dele, que tambem poderia influir numa volta a venus platinada.
ResponderExcluirSonhar eh bom, e sonho com a volta do Lombardi e ate do Lauro, na Globo.
Olá, tudo bem? Miguel Falabella é espetacular no teatro..Agora, como novelista, não sobressai em comparação aos colegas...Ele vai melhor em séries. Eu gostava mais das novelas do Lombardi. Até Uga Uga... Não sei se amadureci e deixei de apreciar o estilo ou ele entrou em uma espiral negativa em suas obras. Abs, Fabio www.tvfabio.zip.net
ResponderExcluirKubanacan foi muito legal porem como durou o ano todo o final ficou meio nom sense
ExcluirOs dois fazem falta sim, principalmente pela questão do texto, que anda tão em falta nas novelas ultimamente. Lombardi e Falabella são dois dos melhores roteiristas do país. Textos críticos, que vão muito além do melodrama fácil, infantil sem o mínimo de profundidade que Pega pega tem. Além deles, destaco Maria e Vincent que deixaram claro, depois de A lei do amor, que o melhor horário deles é o das sete. O horário das sete tá precisando mesmo de uma mudança faz tempo. Enquanto a audiência estiver ótima, nada vai acontecer e vão continuar apostando nas comédias infantis.
ResponderExcluirQue saudades de Pé na Jaca! Queria muito ter assistido Pecado Mortal, mas na época foi impossível. Quanto ao Miguel, nunca me apeguei em suas tramas...
ResponderExcluirAbraço! www.jurandirdalcincomenta.com
Realmente uma comédia do Lombardi faz falta ao horário. As novelas das 7 estão mais do mesmo, Nos últimos quatro anos, só Rock Story que valeu a pena conferir pela história um pouco mais densa e Além do Horizonte, uma ideia interessante, mas mal compreendida.
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