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Afinal, o que está acontecendo com o jornalismo do SBT?

Que o SBT sempre foi uma emissora sem muita tradição no jornalismo, todo mundo já sabe. O canal de Silvio Santos se construiu pelo entretenimento, e seu jornalismo aparecia mais para cumprir a porcentagem de informação que uma concessão pública deve, por lei, oferecer ao público. Mesmo assim, os noticiosos do canal vinham num período de aparente calmaria, mantendo quase sempre três telejornais nacionais no ar – SBT Manhã, SBT Brasil e Jornal do SBT – e, de vez em quando, fazendo uma ou outra experiência, como o Primeiro Impacto, lançado no ano passado, e o atual SBT Notícias, que dedica toda a madrugada da emissora à informação. No entanto, a ascensão do jovem Dudu Camargo como âncora, a dispensa de Joyce Ribeiro e Patricia Rocha, a troca da direção de jornalismo e a extinção do Jornal do SBT, seu mais tradicional telejornal, indicam que as coisas não parecem tão boas para os lados do jornalismo na Anhanguera. Afinal, o que Silvio Santos pretende com tantas “novidades”?

Vale lembrar que, historicamente, o SBT teve apenas dois grandes momentos de investimento em jornalismo. Quando entrou no ar, em 1981, cumpria as horas obrigatórias do jornalismo com o Noticentro, um jornal feito praticamente sem estrutura nenhuma. Apenas em agosto de 1988 que a emissora decide investir mais firme em jornalismo e contrata Bóris Casoy, vindo da mídia impressa, para inaugurar a figura do âncora na TV brasileira. Nascia o TJ Brasil. Ao mesmo tempo, é lançado o jornal matinal TJ Manhã. Alguns anos depois, em 1991, foi a vez de entrar no ar o Jornal do SBT, com Lilian Witte Fibe. No mesmo ano, surgiu também o Aqui Agora, jornal policial que fez história na TV.

A boa fase durou até 1997, quando Bóris Casoy deixou a emissora rumo à Record. Hermano Henning, correspondente internacional e apresentador substituto do TJ Brasil, assume a bancada, mas o telejornal acaba saindo do ar pouco tempo depois. A estrutura do jornalismo do SBT acabou reduzida e, por um bom tempo, produzia apenas boletins noticiosos exibidos na programação, o Notícias da Última Hora. Em 1998, uma parceria com a CBS Telenotícias permitiu uma sobrevida ao jornalismo do canal de Silvio Santos, com o lançamento do Jornal do SBT/CBS. O jornal era apresentado por Eliakin Araújo e Leila Cordeiro direto de Miami, enquanto Hermano Henning comandava blocos direto de São Paulo. O acordo também permitiu o lançamento do Sinal SBT/CBS, que ocupava toda a madrugada do SBT com jornalismo.

No entanto, em 1999, nova redução no jornalismo do SBT. Sem a parceria com a CBS, a emissora lança uma nova versão do Jornal do SBT, com Hermano Henning, sem grandes investimentos e apenas para cumprir tabela. As madrugadas passam a ser preenchidas com o SBT Notícias, que nada mais era que reprises constantes do Jornal do SBT acrescidas de quadros de entrevistas e comentários. Em 2001, novo lançamento: a emissora resgatava o título TJ Manhã, com apresentação de Patrícia Pioltini. No entanto, em 2003, uma crise no SBT fez o canal cortar várias produções, e o jornalismo, que já era reduzido, ficou ainda menor. O TJ Manhã e o SBT Notícias saíram do ar, e o Jornal do SBT passou a ser feito com apenas dois repórteres, muito material de afiliada e quadros enlatados, além da “Frase do Dia”, uma maneira de se dar notícia sem precisar de imagem. Pode-se dizer que, nesta época, Hermano Henning fazia milagre ao comandar um jornal de meia hora sem um mínimo de estrutura.

E, no final de 2003, mesmo sem estrutura, o SBT lança um de seus jornais mais polêmicos, o “Jornal das Pernas”. Apresentado por Cynthia Benini e Analice Nicolau, que usavam saias e apareciam numa bancada transparente, a atração estreou às 19h30 com o nome de Jornal do SBT – 1ª Edição, depois passou para às 6h30 chamado de Jornal do SBT – Manhã, chegou a mudar para às 17h30 por pouco tempo e, mais tarde, voltou para as manhãs e ganhou boletins durante a programação, o SBT Notícias Breves.

A coisa só melhorou em 2005, quando Silvio Santos resolveu reestruturar seu departamento de jornalismo. Para isso, contratou Luiz Gonzaga Mineiro, diretor de jornalismo vindo da Record, e Ana Paula Padrão, então âncora do Jornal da Globo. Com estas duas grifes e novas contratações, surgiu o SBT Brasil, no horário nobre, em agosto do mesmo ano. Enquanto isso, o Jornal do SBT com Hermano Henning ganhou novos investimentos, e o Jornal do SBT – Manhã foi reformulado, passando a ser apresentado por Joyce Ribeiro. Começa aí a segunda melhor fase do jornalismo do SBT, que ganhou o reforço de Carlos Nascimento no ano seguinte. De lá para cá, o canal teve suas experiências malucas, como o SBT São Paulo, SBT Manchetes, o “novo” Aqui Agora, Boletim de Ocorrências, Notícias da Manhã (que foi muito bem-sucedido quando apresentado por César Filho) e o SBT Notícias com Neila Medeiros, mas os três jornais de grade seguiam com uma certa regularidade, e até ganharam boletins nos intervalos. Para um canal que havia ignorado o jornalismo por tanto tempo, era um avanço e tanto.

Eis que chegou 2016 e coisas estranhas começaram a acontecer. Com o fim definitivo do SBT Manhã, surgiu o Primeiro Impacto, novo jornal matinal, pilotado por Joyce Ribeiro e Karyn Bravo. Sem muita expressão no Ibope, o noticioso passou às mãos do jovem Dudu Camargo em outubro, aposta pessoal de Silvio Santos, o que causou polêmica. Jovem e sem estofo para comentar notícias, Dudu passou a fazer dancinhas na atração, além de dar declarações não muito elegantes a respeito de suas “colegas de bancada”. Mesmo desprestigiado de manhã, o jornalismo do SBT ganhou mais espaço com o SBT Notícias na madrugada, que se mostrou uma boa ideia e, ainda, revelou dois novos e bons âncoras: João Fernandes e Cassius Zeilmann. Entretanto, chegou 2017 e o SBT Notícias acabou por “absorver” o Jornal do SBT e o Primeiro Impacto. Foi bem estranho acabar com o Jornal do SBT, marca antiga do canal. Com tais mudanças, Joyce Ribeiro e Patricia Rocha, que davam expediente no Primeiro Impacto, foram dispensadas. Hermano Henning, do Jornal do SBT (e que carregou o jornalismo do SBT nas costas por anos a fio e merece toda a consideração e respeito do mundo), é dúvida: está fora do ar e parece que não há perspectiva de retorno. Analice Nicolau e Karyn Bravo “sobreviveram” e agora fazem parte do rodízio de âncoras do SBT Notícias. E Dudu Camargo, claro, segue intocável, e apresenta o SBT Notícias das 7h15 às 8h30. Com direito a “musiquinha”, “dancinha” e até striptease.

Desde 2005, o jornalismo do SBT ganhou reforços e construiu uma trajetória que, mesmo aos trancos e barrancos, caminhava para uma solidificação interessante. O SBT Brasil estreou mal das pernas, mudou de horário diversas vezes, ganhou novos âncoras, mas acabou conseguindo se fixar na faixa das 19h30, com uma audiência interessante. Ou seja, houve um trabalho em cima e bastante insistência para fazer acontecer, e o jornal acabou entrando nos trilhos. Mas 2017 chegou nebuloso demais para o departamento de jornalismo da emissora. Marcelo Parada, que dirigia o setor desde 2009, começou o ano sendo transferido para o comercial, e José Occhiuoso, responsável pelo jornalismo do SBT Brasília, assume seu lugar. Um profissional competente, mas fica a dúvida sobre o que ele, de fato, poderá fazer nesta fase esquisita em que o dedo de Silvio está tão presente no jornalismo do canal. Afinal, o que esperar de um setor que abre mão de nomes como Hermano Henning e Joyce Ribeiro para dar espaço a Dudu Camargo?

Ou seja, Silvio Santos está jogando por terra todo o trabalhão que o jornalismo do SBT teve para conseguir se consolidar. Que fase!

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André Santana

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4 Comentários

  1. Olá, tudo bem? Eu não lembro do programa Ponto a Ponto. Portanto, jamais assisti. Sobre o Jornal das Pernas: eu gostava de acompanhar o telejornal. Era leve e informativo. Assistia até o pessoal do Departamento de Jornalismo da USP. Chegava lá e a TV sintonizada no "canal 4". Abs, Fabio www.tvfabio.zip.net

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    1. Eu assistia o Ponto a Ponto e gostava! Fiquei triste quando cancelaram, rs! Eu também assistia o Jornal das Pernas e até gostava, mas ele era feito sem estrutura nenhuma. Na verdade, usava o mesmo material do jornal do Hermano, cheio de "frases do dia", opinião dos espectadores e matérias enlatadas. Mas eu sempre gostei do trabalho das duas como apresentadoras, elas sempre foram boas. Pena que ficaram marcadas como as moças das pernas de fora, rs!

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  2. O Jornalismo do SBT só vai engrenar quando o Silvio nos deixar. Esse Dudu Camargo é uma aberração para quem passou quatro anos estudando jornalismo na faculdade. Essas dancinhas não acrescentam em nada, só lamento o fato de profissionais tarimbados como o Hermano Henning que pra mim ganharia uma estátua na redação ficarem de fora.

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    1. Sinceramente, não me incomoda o fato de Dudu não ter diploma. Reconheço a importância de um diploma, mas tenho muito respeito pelos jornalistas que se "formaram" na prática. O problema do Dudu é que ele não é bom: ele claramente emposta a voz e faz uma espécie de personagem, como se interpretasse um apresentador. Além disso, não tem estofo para comentar notícias e as tais dancinhas são de gosto duvidosíssimo. É isso que joga por terra o nome dos bons profissionais do jornalismo do SBT. Se Silvio gosta tanto dele, devia apostar nele no entretenimento, e não no jornalismo.

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