Gloria Pires, Camila Pitanga e Adriana Esteves em Babilônia (reprodução) |
Em 2015, a Globo prometeu um “novelaço” em seu horário nobre. As primeiras chamadas de Babilônia empolgaram o público ao apresentar uma trama baseada no embate explosivo entre duas vilãs, Beatriz e Inês. Interpretadas por Gloria Pires e Adriana Esteves, as duas personagens pareciam ter um enorme potencial de cair nas graças do público, que adora boas megeras.
O primeiro capítulo não decepcionou quem esperava acompanhar o início desta queda de braço. De cara, Beatriz se revelou uma predadora sexual e assassina cruel, que foi capaz de assassinar um homem para esconder um segredo. Já Inês era a megera invejosa, que queria ser Beatriz e foi testemunha deste assassinato. No meio das duas, a mocinha Regina (Camila Pitanga), filha do homem assassinado, que luta para descobrir qual das duas é a assassina.
Mas a boa impressão ficou apenas no primeiro capítulo. Babilônia perdeu fôlego logo na primeira semana e a audiência desabou a níveis críticos para os padrões da época. Muita gente creditou o fracasso a uma onda conservadora, que rejeitou a violência da história e o beijo entre Tereza (Fernanda Montenegro) e Estela (Nathalia Timberg).
Não chega a ser verdade absoluta. A onda conservadora pode, sim, ter influenciado no fiasco da trama, mas Babilônia apresentou problemas por outros motivos. A queda de braço entre Beatriz e Inês logo perdeu força, deixando a novela monótona. Não chegava a ser uma novela ruim, mas também passou longe de ser a trama explosiva prometida.
Ainda assim, a Globo interveio. Tratou de orquestrar um plano para salvar Babilônia, que incluía se livrar de histórias polêmicas demais. Com isso, a personagem de Sophie Charlotte, que seria uma prostituta, virou uma mocinha convencional. Já Marcos Pasquim, que faria um homem gay, tornou-se um rapaz heterossexual. Herson Capri, que viveria um bandido barra-pesada, ganhou outro personagem, um empresário picareta.
As mudanças deram certo? Claro que não. Babilônia foi tão modificada que afugentou o público que comprou a ideia inicial, ao mesmo tempo em que não agregou novos espectadores. Ou seja, mesmo revirada, a trama não conseguiu reverter a crise e, durante muito tempo, a história escrita por Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga amargou o ingrato título de maior fracasso do horário nobre da Globo de todos os tempos.
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A história se repete
Nicolas Prattes e Gabz em Mania de Você (divulgação) |
Curiosamente, é exatamente isso o que está acontecendo com Mania de Você. A atual novela das nove da Globo derrubou a audiência da faixa das 21h logo em sua primeira semana, e a emissora não demorou para intervir. A primeira fase foi picotada para chegar logo à segunda fase. E a segunda fase passou por viradas antecipadas. Ou seja, a ordem foi acelerar a trama.
Assim como aconteceu com Babilônia, a Globo concluiu que o excesso de maldade e violência estaria atrapalhando a novela. Com isso, várias tramas consideradas polêmicas foram deixadas de lado. O autor João Emanuel Carneiro aboliu o romance entre Diana (Vanessa Bueno) e Fátima (Mariana Santos), e também do “tio” Volney (Paulo Rocha) e da “sobrinha” Bruna (Duda Batsow).
Com isso, começaram os remendos. Volney, por exemplo, engatou um romance com Mércia (Adriana Esteves), personagem que perdeu função diante da aceleração da história principal. Mania de Você, atualmente, mais parece uma nau sem rumo, buscando um lugar ao sol (sem trocadilhos).
E fica a pergunta: mudar a novela toda adiantou? Não. Aconteceu exatamente a mesma coisa que vimos em Babilônia. Quem gostou da novela no começo já a abandonou, pois as mudanças desfiguraram a história, e um novo público não foi conquistado. Não seria melhor ter levado a história como ela foi originalmente concebida? O desastre não seria amenizado?
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Não deu certo
A verdade é que acelerar Mania de Você foi a pior ideia que a Globo poderia ter tido. Afinal, a narrativa já era bastante ágil. Ao colocar o pé no acelerador, a emissora obrigou o autor a atropelar seu planejamento, o que fez a história ficar um tanto esquizofrênica.
O maior exemplo é a trajetória de Luma (Agatha Moreira), que começou meio mocinha, virou uma vilã vingativa e, do nada, se arrependeu e agora tenta reparar seu erro. Tudo feito sem construção, sem sutileza, de forma atabalhoada. Se a história não tivesse sido tão atropelada, haveria mais tempo para construir essa virada. Da maneira que aconteceu, não faz o menor sentido.
Aliás, todas as sequências após a queda de Viola (Gabz) não fazem sentido. O núcleo de órfãos é chato, o fato de nenhum personagem procurar a polícia incomoda, e o romance entre Viola e Rudá (Nicolas Prattes) não empolga ninguém. Uma pena, porque a novela teve um início realmente muito bom. Na ânsia de fazer a novela acontecer, a Globo acabou destruindo uma boa ideia.
André Santana
30/11/2024
1 Comentários
Olá, tudo bem? Não havia grande expectativa com Babilônia desde o início. Sobre Mania de Você: deveria ter sido uma novela das dez, igual Todas as Flores. Trama compacta com 90 a 100 capítulos. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br
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