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Tributo a Manoel Carlos no Globoplay reacende debate sobre as Helenas

O autor Manoel Carlos
O autor Manoel Carlos (divulgação)

O Globoplay lançou recentemente um episódio do programa Tributo em homenagem ao autor Manoel Carlos. Maneco, como é chamado por fãs e amigos, faz parte da história da TV, já tendo atuado como ator e diretor - nesta última função, aliás, dirigiu programas históricos, como Hebe (1966) e Fantástico (1973).

Mas foi como autor de novelas que Maneco conquistou uma legião de admiradores. Suas histórias ficaram marcadas por seguirem um estilo muito peculiar, de crônicas cotidianas, com enredos que valorizavam questões familiares e dilemas da classe média alta. Em Baila Comigo (1981), o novelista batizou sua protagonista de Helena (Lilian Lemmertz), nome que repetiria depois em Felicidade (1991), História de Amor (1995), Por Amor (1997), Laços de Família (2000), Mulheres Apaixonadas (2003), Páginas da Vida (2006), Viver a Vida (2009) e Em Família (2014).

Assim, Manoel Carlos criou uma marca registrada. Seus fãs costumam debater sobre qual a melhor das Helenas e qual a pior delas. O debate também chega ao programa Tributo, que reuniu depoimentos de várias atrizes que encarnaram suas Helenas, como Maitê Proença, Vera Fischer, Julia Lemmertz e Taís Araújo.

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As Helenas

Reynaldo Gianecchini e Vera Fischer em Laços de Família
Reynaldo Gianecchini e Vera Fischer em Laços de Família (divulgação)

Baila Comigo deu o norte do que seria a Helena: uma mulher forte, capaz de tomar atitudes pouco ortodoxas para defender sua família. As Helenas de Felicidade, História de Amor, Por Amor e Laços de Família - vividas por Maitê Proença, Regina Duarte, novamente Regina, e Vera Fischer - seguiram pela mesma cartilha.

Porém, a partir da Helena de Christiane Torloni, as Helenas deixam um pouco de ser o centro das atenções das novelas de Maneco. A reprise recente de Mulheres Apaixonadas serviu para me fazer relembrar que a Helena da trama, embora não seja a líder absoluta da história, tem sim uma trama intensa e uma participação interessante na trama.

Helena começa a trama questionando seu casamento com Téo (Tony Ramos), uma história aparentemente banal. No entanto, a personagem ganha força ao descobrir que foi traída por ele, que, inclusive, a fez adotar seu filho biológico fruto da traição. 

Além disso, Helena é o ombro amigo de todas as “mulheres apaixonadas” da novela. É ela quem está ao lado de Heloísa (Giulia Gam) em suas crises, e é ela quem vai acompanhar Hilda (Maria Padilha) ao médico quando a irmã descobre um câncer. Helena também está ao lado de Rachel (Helena Ranaldi) quando a professora decide denunciar seu marido por agressão.

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Qual a pior Helena de Manoel Carlos?

Bruna Marquezine e Julia Lemmertz em Em Família
Bruna Marquezine e Julia Lemmertz em Em Família (divulgação)

Mas, a partir de 2006, fica mais dificil defender as Helenas. Curiosamente, todas elas tinham tramas de enorme potencial, mas acabaram não cumprindo as expectativas e perderam espaço dentro das novelas que deveriam protagonizar.

A Helena (Regina Duarte) de Páginas da Vida, por exemplo, adotou às escondidas uma criança rejeitada pela avó, Marta (Lilia Cabral). As artimanhas da médica para não ser descoberta e a posterior luta pela guarda de Clara (Joana Mocarzel) na justiça eram tramas interessantes, mas ficaram meio perdidas. Helena passou boa parte da novela apenas buscando uma escola para a filha, que tinha Síndrome de Down, e conversando com Lídia (Thalita Carauta) sobre o fantasma de Nanda (Fernanda Vasconcellos), a mãe biológica de Clarinha. A briga judicial acontece apenas na reta final.

Já a Helena (Taís Araújo) de Viver a Vida também prometia. Ela se apaixona por um homem mais velho, Marcos (José Mayer), pai de sua rival Luciana (Alinne Moraes). A promessa era que, num determinado momento da história, Helena disputasse o marido com Dora (Giovanna Antonelli), que se tornaria amante de Marcos. Ao mesmo tempo, ela também se apaixonaria por Bruno (Thiago Lacerda), que depois é descoberto que é filho de Marcos.

Na prática, nada aconteceu. Helena apenas chorava pelos cantos, culpada pelo acidente que deixou Luciana numa cadeira de rodas. A prometida rivalidade com Dora nunca aconteceu de fato, já que Maneco se apaixonou pelo casal que ela formou com Maradona (Mario José Paz) e preferiu investir neles. Ou seja, a Helena ficou sem história. A própria Taís Araújo comentou que Helena não tinha “paint” de protagonista, e que a “Helena moral” de Viver a Vida era Tereza (Lilia Cabral), a mãe de Luciana.

A última Helena (Julia Lemmertz), de Em Família, também prometia. Ela se veria diante de Laerte (Gabriel Braga Nunes), um amor do passado que quase matou seu marido Virgílio (Humberto Martins). Porém, o flautista está envolvido com Luiza (Bruna Marquezine), a filha de Helena. Era uma espécie de reedição de Laços de Família, mas com o agravante de que Laerte tem traço de assassino. Uma "Laços de Família dark".

Tinha tudo para ser uma história de alta voltagem dramática, mas nada aconteceu. Helena apenas resmungava, falava mal de Laerte e ficava a maior parte do tempo olhando uma caixa com lembranças do ex. Assim como em Viver a Vida, havia a promessa de que ela teria uma ótima antagonista para bater de frente - desta vez, Shirley (Vivianne Pasmanter) -, mas a rivalidade delas foi muito mal explorada e Shirley só aparecia para falar mal de todo mundo e alisar sua cobra de estimação.

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A Helena que foi sem nunca ter sido

Jardel Filho e Irene Ravache em Sol de Verão
Jardel Filho e Irene Ravache em Sol de Verão (reprodução)

Curiosamente, Manoel Carlos criou a Helena em Baila Comigo, mas só passou a usar a personagem como protagonista de suas histórias de maneira recorrente 10 anos depois. Nesse meio-tempo, o autor assinou no horário nobre da Globo a novela Sol de Verão (1982), que ficou marcada por conta da trágica morte de Jardel Filho, que vivia o protagonista Heitor. 

Recentemente, o Globoplay resgatou oito capítulos da obra, que não foi preservada na íntegra pela Globo. Quem assistiu deve ter percebido que a protagonista Raquel, vivida por Irene Ravache, tem muito de Helena. Na prática, é uma Helena com outro nome.

No início da novela, Raquel abre mão de um casamento tranquilo, porém morno, em busca da felicidade. Ela também é mãe de uma jovem chatinha, a Clara (Débora Bloch) - as melhores Helenas são mães de garotas chatinhas, vide História de Amor, Por Amor e Laços de Família. Raquel se apaixona por Heitor, um tipo completamente diferente dela, mas também desperta a paixão de Horácio (Paulo Figueiredo).

Ou seja, Raquel é uma típica heroína de Manoel Carlos, mas não se chama Helena. Provavelmente, quando Maneco criou a Helena de Baila Comigo, não tinha a intenção de fazer da personagem sua marca. Foi a partir de Felicidade que o autor resolveu transformar Helena numa figura “mítica” de suas histórias.

André Santana

30/03/2024

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