Reprise de Pecado Mortal mostra o quanto a Record perdeu poder de fogo

Simone Spoladore e Fernando Pavão em Pecado Mortal (divulgação)

A reprise de Pecado Mortal (2013), no ar nas noites da Record, tem passado em brancas nuvens. Um resultado, aliás, que já era esperado. Afinal, a trama de Carlos Lombardi já não fez sucesso em sua primeira exibição, mostrando falta de apelo popular. Nesta segunda chance, a trama ainda bate de frente com o BBB, que, mesmo quando fracassa, ainda é o BBB. Sem chance!

Porém, quem resolveu dar uma chance ao folhetim deve ter se surpreendido com a qualidade da produção. Primeiro, porque o texto é um dos mais inspirados da carreira de Lombardi, que escreveu novelas ótimas como Quatro por Quatro (1994), Uga Uga (2000) e Pé na Jaca (2006), entre tantas outras.

Segundo, porque em sua estreia na Record, Lombardi encontrou uma patota ótima. Alexandre Avancini, que dirigiu vários trabalhos do autor na Globo, já estava na Record há um bom tempo quando Lombardi chegou e assumiu o comando do folhetim. A parceria se mostrou certeira.

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Betty Lago, musa do novelista, também já figurava no elenco da Record e surgiu em grande estilo como uma das protagonistas de Pecado Mortal. Outros atores conhecidos do autor, como Claudio Heinrich, Iran Malfitano, Victor Hugo, Luiz Guilherme e tantos outros, também já eram contratados da emissora e reencontraram Lombardi. Enquanto isso, Fernando Pavão se mostrou um excelente “sucessor” de Humberto Martins e Marcos Pasquim como galã descamisado, enquanto Simone Spoladore fez uma mocinha adorável e soube, como poucas, viver o texto do autor.

Tudo funcionou direitinho. Pena que pouca gente viu. Na época, a Record havia perdido muito público com suas novelas em razão de vários tropeços seguidos: Máscaras (2012), Balacobaco (2012) e Dona Xepa (2013) afugentaram parte da audiência que embarcou em boas novelas, como Vidas Opostas (2006), Chamas da Vida (2008) ou Ribeirão do Tempo (2010). Provavelmente, se Pecado Mortal fosse exibida nessa safra, as coisas teriam sido diferentes.

Dito isso, assistir à reprise de Pecado Mortal na atual Record é uma experiência quase antropológica. Afinal, a novela em nada combina com o momento da emissora. É uma trama moderna, ousada, com malícia, tensão sexual e violência. Bem diferente das tramas bíblicas burocráticas ou enlatados açucarados tipo Quando Chama o Coração.

Não por acaso, a reprise é um fracasso. Pecado Mortal não conversa com o público da Record de hoje. Foi válida a tentativa de apresentar a novela para um novo público, mas ficou claro que os espectadores de Jezabel e Quando Chama o Coração não têm interesse em Pecado Mortal. Pena. Saudades dos bons tempos da dramaturgia da Record…

André Santana

12/01/2024