Ticker

6/recent/ticker-posts

Publicidade

Desenvolvimento equivocado prejudicou "Amor Perfeito"

Marcelino (Levi Asaf) e Marê (Camila Queiroz) em Amor Perfeito
Marcelino (Levi Asaf) e Marê (Camila Queiroz) em Amor Perfeito (reprodução/Globo)

Amor Perfeito, novela das seis da Globo encerrada na última sexta-feira, 22, contou uma história tradicional, graciosa e de momentos muito interessantes. No geral, foi uma boa novela. No entanto, os autores Duca Rachid, Julio Fischer e Elísio Lopes Jr. pecaram no desenvolvimento da trama, focando demais num fiapo de história ao mesmo tempo em que deixaram outros plots em stand-by. 

A trama da mocinha Marê (Camila Queiroz) foi bem armada. A armadilha da madrasta Gilda (Mariana Ximenes), que jogou nela a culpa pelo suposto assassinato do pai Leonel (Paulo Gorgulho), foi um ponto de partida poderoso. A coisa ficou ainda mais envolvente quando a heroína se viu afastada de Orlando (Diogo Almeida), seu grande amor, e do filho Marcelino (Levi Asaf), entregue à uma instituição religiosa ao nascer.

Mesmo com um primeiro capítulo apressado, que rendeu vários fatos sem explicação, Amor Perfeito conseguiu criar uma expectativa quanto ao futuro de Marê. Não foi difícil torcer para que ela saísse logo da prisão, retomasse sua história de amor, reencontrasse o filho e, principalmente, derrotasse Gilda.

Mas foi aí que aconteceu o primeiro problema de Amor Perfeito. Toda essa história foi resolvida em apenas duas semanas de novela no ar. O que se viu depois foi uma queda-de-braço entre Gilda e Marê, que rendeu momentos estranhos. Marê, por exemplo, conseguiu retomar o patrimônio da família após sair da cadeia, mas Gilda armou com um testamento falso e conseguiu tudo de volta. Depois disso, Marê decidiu simplesmente tocar sua vida. Porém, Gilda, sem qualquer motivo aparente, passou a infernizá-la. 

Tudo isso deixou Amor Perfeito cansativa. E, mesmo com o duelo entre Marê e Gilda demonstrando fragilidade, os autores seguiram focando toda a novela nas duas personagens. Enquanto isso, várias tramas paralelas que poderiam ter rendido algo interessante simplesmente não andavam. Faltou dosar melhor todas as histórias que se pretendia contar.

O efeito disso foi que Amor Perfeito apresentou vários personagens que não fizeram nada praticamente a novela toda e viram suas histórias serem desenvolvidas apenas na reta final. Isso fez com que várias tramas que tinham enorme potencial se resolvessem apressadamente. O exemplo mais notório é o de Elza (Raquel Karro), que passou a novela toda fugida, voltou quando o filho ficou doente e viu o ex-marido matar o próprio herdeiro tentando acabar com a vida dela - tudo isso em apenas um capítulo!

Mas, além de Elza, outros personagens ganharam enredo apenas na reta final. É o caso de Lívia (Lucy Ramos) e Aparecida (Isabel Fillardis), além de Wanda (Juliana Alves) e Silvio (Bukassa Kabengele). Os dois últimos, aliás, tinham uma trama ótima, que os ligava a Gilda, mas essa história só apareceu no fim. Os personagens passaram vários capítulos sem fazer nada e, de repente, se tornaram quase protagonistas. Frei Severo (Babu Santana) também tinha uma história interessante, já que se atormentava por ter matado um homem acidentalmente no passado, mas a trama não foi desenvolvida.

Uma das poucas tramas paralelas desenvolvidas foi a de Érico (Carmo Dalla Vecchia). Mas, vale salientar, muito mal desenvolvida. Afinal, o personagem foi apresentado como um homem gay, que era chantageado por Gilda justamente por conta desta condição. Mas, ao longo da trama, o envolvimento dele com Verônica (Ana Cecília Costa) ficou sério, ao ponto de eles formarem uma família e serem felizes para sempre.

O rumo de Érico, claro, foi muito criticado, já que muita gente passou a acreditar que a Globo promove uma espécie de “cura gay” no personagem. Pegou tão mal que os autores e a própria emissora vieram a público insistir que o advogado era bissexual. Mas não foi isso que estava escrito no perfil do personagem no GShow e o próprio ator deu entrevistas falando da alegria de viver um personagem gay escrito especialmente para ele - que é gay na vida real. 

Independentemente de Érico ser bi ou gay, fato é que sua orientação sexual - seja ela qual for - também foi muito mal desenvolvida. Na verdade, não houve um aprofundamento na questão. O fato de ele ter se envolvido com Romeu (Domingos de Alcantara) serviu apenas para a chantagem de Gilda, que o obrigou a reconhecer um testamento falso. Passada esta fase, a sexualidade do personagem foi simplesmente esquecida, e voltou à tona na reta final de uma forma apressada - como todas as demais tramas paralelas, diga-se. Pegou mal, ainda mais neste momento em que a Globo vive um claro retrocesso no trato da diversidade sexual em suas novelas.

Mariana Ximenes como Gilda em Amor Perfeito
Mariana Ximenes como Gilda em Amor Perfeito (reprodução/Globo)

Outro erro foi o perfil de Gilda. A vilã foi ótima e Mariana Ximenes brilhou em cena, bem entendido, mas a megera teve uma construção textual inconsistente. Isso porque em vários momentos ela se mostrou uma vilã tradicional, que era má simplesmente porque era - o fato de ela perseguir Marê mesmo tendo conseguido todo o patrimônio da enteada prova isso. Mas, em vários momentos, os autores tentaram injetar-lhe humanidade, explicando que sua ambição era fruto de uma vida difícil e cheia de privações.

Tanto que ela chegou a se apaixonar por Orlando e se afeiçoar a Marcelino, o que mostrou que ela tinha coração. Mas, mais uma vez, a vilã só mostrava traços de humanidade quanto interessava ao roteiro. Quando não, ela só era uma sádica cruel e pronto. Parece que nem os autores entenderam direito o que de fato movia Gilda.

Mas, apesar das falhas, Amor Perfeito contou uma boa história. E que teve o mérito de incluir atores negros em posições de destaque, algo provavelmente inédito numa novela de época. Não será uma novela memorável, mas cumpriu a missão de entreter o público da faixa.



André Santana

24/09/2023

Postar um comentário

1 Comentários

  1. Olá, tudo bem? "Amor Perfeito" acertou ao valorizar os protagonistas. Núcleo central é núcleo central. Personagens coadjuvantes são coadjuvantes. Isso, por exemplo, não acontece na confusa Terra e Paixão. Concordo sobre a primeira fase fugaz. Já divulguei a relação com os pontos positivos e negativos. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

    ResponderExcluir

Publicidade

(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});