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Ao apostar nas mesmas novelas de sempre, Globo cria armadilha para si mesma

Guilherme Fontes e Gloria Pires em Mulheres de Areia
Guilherme Fontes e Gloria Pires em Mulheres de Areia (divulgação/Globo)

O Rei do Gado (1996) acaba de ser reapresentada pela terceira vez na TV Globo. Foi substituída por Mulheres Apaixonadas (2003), em sua segunda reprise no canal aberto. Mais cedo, o terceiro repeteco de Chocolate com Pimenta (2003) será sucedido pela terceira reapresentação de Mulheres de Areia (1993). Ou seja, a Globo transformou as faixas Edição Especial e Vale a Pena Ver de Novo em espaço para a exibição de clássicos já amplamente revisitados e exaltados no passado.

É uma aposta à prova de erros. São tramas que parecem ter o poder de chamar a atenção do público sempre que voltam ao ar. Clássicos incontestáveis e atemporais, capazes de estabelecer diálogos tanto com um público novo quanto com os nostálgicos. E a Globo, cada vez menos disposta a errar, se rende a eles sem pudores. É algo novo na história do canal, que sempre olhou para a frente.

Porém, ao mesmo tempo em que garante a audiência, a emissora cria uma armadilha para si mesma ao revisitar tantos clássicos ao mesmo tempo. Afinal, os títulos citados não são clássicos por acaso: são tramas arrebatadoras, bem escritas, realizadas num tempo em que o folhetim vivia o auge de sua popularidade. 

Benedito Ruy Barbosa, Manoel Carlos e Ivani Ribeiro são os “reis da tarde” na Globo e a reprise de suas obras mostra o quanto o canal perdeu sem medalhões deste porte em suas fileiras. Afinal, praticamente nenhuma das novelas inéditas atualmente no ar possuem a força das tramas reapresentadas à tarde. Não é saudosismo, é uma constatação.

O Rei do Gado chegou a encostar na novela das seis, e não foi por acaso. A história de Bruno Mezenga (Antonio Fagundes) fisga o público pela emoção legítima, cercada de bons temas, personagens bem desenhados e entrechos que não parecem repetir uma fórmula. É folhetim, claro, mas com uma pitada de originalidade. Já Amor Perfeito peca pela burocracia. Os novos autores, salvo exceções, não parecem capazes de pensar “fora da casinha”.

Vai na Fé é a exceção. Pode ser que não se torne um clássico, mas, ao menos, Rosane Svartman conseguiu construir uma história forte, com momentos de catarse, personagens cativantes e boas reviravoltas. Não reinventou a roda, mas apostou na sensibilidade. É a única novela inédita no ar capaz de surpreender e, não por acaso, é a única que alcança boa repercussão.

Assim, ao reprisar tantos clássicos ao mesmo tempo, a Globo faz o público comparar as novelas de ontem com as de hoje. E as atuais saem perdendo, infelizmente. Até mesmo Walcyr Carrasco, que arrebatou o público com as trocentas exibições de Chocolate com Pimenta, não acertou a mão com Terra e Paixão. Nem parece o mesmo autor.

Além disso, ao apostar nas mesmas reprises de sempre, a Globo não permite com que novelas mais recentes também se tornem clássicos. Já notou que foram pouquíssimas as novelas de 2010 que ganharam um repeteco no Vale a Pena Ver de Novo? Ao mesmo tempo em que reforça o ar cult das tramas dos anos 1990 e 2000, a Globo “apaga” da memória do público as obras de 2010 em diante, salvo uma ou outra exceção, como Avenida Brasil (2012) e Eta Mundo Bom! (2016).

A Globo tem sorte de contar com um arquivo imenso de novelas aprovadas pelo público. Mas quantas reprises mais de O Rei do Gado, Mulheres Apaixonadas e Mulheres de Areia serão necessárias para que o canal desgaste até mesmo seus clássicos?

André Santana

10/06/2023

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8 Comentários

  1. André, as reprises de O Rei do Gado (1996/1997), Mulheres Apaixonadas (2003) e Mulheres de Areia (1993) são bissextas ou seja a Globo não reprisou tanto assim! O Rei do Gado exibida originalmente após o JN em 1996/1997 após o JN foi reprisada no Vale a Pena Ver de Novo em 1999, 2015 e agora mais recentemente em 2022/2023, foi a primeira novela a ter 3 reprises no VPVDN que desde dezembro de 2021 quando tavam na segunda reprise de O Clone (2001/2002 aquela novela escrita por Glória Perez foi reprisada no VPVDN em 20111 e no Viva na TV Fechada em 2019/2020 também é outra novela com reprises bissextas) e decidiram reprisar O Cravo e a Rosa (2000/2001) entre o Jornal Hoje e a Sessão da Tarde pra acabar de vez com a festa do A Hora da Venenosa da Record e a estratégia deu certo, o VPVDN ficou só pras novelas pós-JN (antiga novela das 8 atual novela das 9), O Rei do Gado foi reprisada no Viva em 2011! Mulheres Apaixonadas exibida originalmente após o JN em 2003 foi reprisada no VPVDN em 2008/2009 e agora em 2023, no Viva foi reprisada em 2020/2021! Já Mulheres de Areia exibida originalmente em 1993 no horário das 6 global foi reprisada no VPVDN em 1996/1997 e 2011/2012, no Viva em 2016 e agora em breve em 2023 entre o Jornal Hoje e a Sessão da Tarde na sequência de Chocolate com Pimenta (2003/2004)! O Cravo e a Rosa e Chocolate com Pimenta ambas novelas das 6 de época e ambas do Walcyr Carrasco tiveram mais reprises.

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  2. Olá, tudo bem? "Benedito Ruy Barbosa, Manoel Carlos e Ivani Ribeiro não são os “reis da tarde”, mas sim reis da teledramaturgia nacional. As "novelas de antigamente", de fato, eram bem superiores. Com o resgate desses títulos, fortalece o ar empobrecido das tramas atuais. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

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  3. A questão é que a Globo não tem produzido clássicos desde a última década. Qual foi a última grande novela das seis da emissora? Faz tempo. Na faixa das sete, só a Rosane tem ido bem. Aliás, Vai na Fé é a melhor novela do ano e a melhor novela da Rosane até aqui. E a faixa das nove? Quais foram os clássicos? Como vc mesmo falou, a Globo não quer errar. Então, só veremos sim os grandes clássicos nas reprises da tarde. A questão é a falta de bons autores que mantenham o nível de Ivani, Maneco e Benedito. Enquanto isso não mudar, veremos muitas reprises dos clássicos das outras décadas.

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    1. Eu acho que a única novela da década de 2010 que pode ser considerada um clássico é Avenida Brasil (2012).

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  4. Tem a cheias de charme e as recentes que o público pede quando volt não dão tanto audiência como a facilita e ti ti ti clássicos da tarde..a verdade é wie as novelas não tem mais uma história de anor forte..isso ficou brega .....

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