"Travessia" parece mais "Salve Jorge" e menos "A Força do Querer"

Ari (Chay Suede), Brisa (Lucy Alves) e Oto (Romulo Estrela), em Travessia
(divulgação/TV Globo)

Não é porque Helô (Giovanna Antonelli), Stênio (Alexandre Nero) e Creuza (Luci Pereira) estão de volta, não. Mas Travessia tem uma pegada meio Salve Jorge que é difícil ignorar. Depois de promover uma boa renovação em seu próprio estilo em A Força do Querer, Gloria Perez parece disposta a resgatar sua porção mais rocambolesca na nova novela das nove da Globo.

Salve Jorge elevou a décima potência as principais características da novelista, ao trazer uma mistura de temas, muitos personagens, viradas absurdas e muita licença poética, tudo isso embalado num papel um tanto cafona. As peripécias da vilã Lívia Marine (Claudia Raia), que matava suas vítimas com uma seringa na jugular, e o cabelo mutante de Morena (Nanda Costa) são algumas das lembranças bizarras deste “clássico”.

A novela não fugiu da receita de sucesso da autora, que emplacou Caminho das Índias, O Clone e Explode Coração (entre outras), mas parece que em Salve Jorge nada funcionou como em suas antecessoras. Por isso, A Força do Querer surpreendeu. A impressão que passou é que Gloria aprendeu com os erros de Salve Jorge e se livrou de vários vícios que a acompanhavam, mas que não funcionam mais. A Força do Querer era um folhetim rasgado, como todas as novelas da autora, mas tinha uma estrutura mais moderna, mais fresca, que se revelou um tanto acertada.

Já Travessia parece trazer de volta esta atmosfera de Salve Jorge. Os primeiros capítulos trouxeram situações um tanto over, muito carregadas nas tintas. O conflito inicial entre Guerra (Humberto Martins) e Moretti (Rodrigo Lombardi) foi todo exagerado, e até meio confuso, com desdobramentos absurdos. Enquanto isso, a mocinha Brisa (Lucy Alves) teve pouco espaço na história que assina.

Porém, apesar de parecer mais Salve Jorge que A Força do Querer, Travessia traz algo da última novela da autora. Ari (Chay Suede), que vai ao Rio de Janeiro para acompanhar um amigo, mas se deixa levar pelo desejo de se aproximar de Guerra e, “sem querer”, se vê envolvido com Chiara (Jade Picon), lembra bastante a história de Ritinha (Isis Valverde), que se deixou levar pela oportunidade e partiu com Ruy (Fiuk) para o Rio de Janeiro, deixando Zeca (Marco Pigossi) a ver navios. 

Travessia já gerou muita fofoca antes da estreia, sobretudo por se tratar da estreia da ex-BBB Jade Picon como atriz de novelas. De fato, a influencer tem em mãos uma das personagens principais da obra. Porém, Chiara tem um perfil muito próximo do da própria atriz. Com isso, até aqui, Jade tem se mostrado muito natural em cena. Sua atuação não compromete e a história em que está inserida é bem envolvente. Pode dar certo.

No mais, ainda é cedo para saber se Travessia funcionará ou não. A primeira semana não trouxe grandes acontecimentos, mas Gloria Perez é uma autora que entende seu público e sabe entregar o que se espera dela. É aguardar os próximos acontecimentos para saber se Travessia terá seus dias de A Força do Querer, ou se continuará ostentando uma certa cafonice a la Salve Jorge.

André Santana

15/10/2022