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"Um Lugar ao Sol" é deliciosa mistura de folhetim, clichês, melodrama e crítica social

Cauã Reymond como Christian e Renato em Um Lugar ao Sol
Foto: reprodução/TV Globo

Quando Lícia Manzo surgiu com A Vida da Gente, trama das seis recentemente reapresentada na Globo, ela foi apontada como “novo Manoel Carlos”. A trama baseada em fatos da vida, com típicos dramas psicológicos da classe média alta, reforçava tal comparação. Em Sete Vidas, que veio depois, o estilo continuou intacto, com tramas muito baseadas no diálogo e nas indefectíveis discussões de relação.

Por isso, quando Lícia Manzo foi confirmada no horário mais nobre da Globo, esperava-se algo parecido. Mas não. Para marcar sua estreia na nova faixa, a autora fez de Um Lugar ao Sol uma trama bem mais robusta do que as discussões de relação vistas às seis. Elas estão lá, claro! Mas surgem dentro de uma trama muito mais densa, que usa vários dos bons clichês do folhetim para contar uma história envolvente, humana e recheada de críticas sociais.

Um Lugar ao Sol é centrada nos gêmeos Christian (Cauã Reymond) e Renato (Cauã Reymond), que foram separados ao nascer. Enquanto o primeiro foi criado num abrigo, sem nenhuma oportunidade na vida, o segundo foi adotado por uma família rica, que lhe deu tudo de bom e do melhor. Sim, trata-se da velha trama dos gêmeos de temperamentos opostos. Mas a beleza de Um Lugar ao Sol está no fato de que os gêmeos não se distinguem como “gêmeo bom” e “gêmeo mal”. A abordagem é mais complexa.

Na primeira semana, Um Lugar ao Sol mostrou os gêmeos como um espelho das imensas diferenças sociais que os separam. Christian é esforçado e tenta sempre vencer por méritos próprios, mas, sem oportunidade na vida, não consegue avançar. Já Renato tem todas as oportunidades à disposição, mas as desperdiça em nome de uma vida sem propósito, como um rebelde sem causa.

Uma das cenas mais emblemáticas destas diferenças foi quando Christian tentava o vestibular. Mesmo se esforçando bastante, ele não teve tempo suficiente para ir mais fundo nos estudos, em razão do seu trabalho e, por isso, não conseguiu ingressar numa faculdade pública. Já Renato pode escolher qualquer faculdade, mas, sem interesse, não se esforça para entrar em nenhuma. Um tapa na cara da tal “meritocracia”. Um Lugar ao Sol, então, flerta com Vidas Opostas ao fazer um contraponto social. Mas, ao invés de um casal, o faz com os gêmeos.

Ao mesmo tempo em que busca se aprofundar em questões pertinentes, Um Lugar ao Sol não foge do folhetim, e nem se furta de usar todos os clichês mais batidos do formato. Mas o faz de maneira habilidosa, elegante e que instiga. Aqui, a narrativa de Lícia Manzo está mais para João Emanuel Carneiro do que Manoel Carlos, tendo em vista a grande habilidade de se contar uma história absolutamente folhetinesca de maneira sofisticada.

Afinal, há algo mais folhetinesco que a velha história dos gêmeos que trocam de lugar? Porém, Um Lugar ao Sol traz uma proposta que, se não é nova, também está longe de ser batida, que é justamente as questões psicológicas e éticas desta troca. Christian assume o lugar de Renato porque está cansado de apanhar da vida e quer estar numa situação melhor. Porém, para isso, ele engana a amada Lara (Andréia Horta) e a família do verdadeiro Renato. Afinal, até onde se pode ir para alcançar um sonho de uma vida melhor? E ainda: a nova vida é realmente melhor? São muitas questões levantadas pela trama, que devem ser exploradas com o astuto olhar de Lícia Manzo diante do material humano, tão bem explorado em suas novelas das seis.

E Lícia Manzo mantém intacta sua melhor característica: os diálogos extremamente bem construídos. Não há uma frase sem significado no texto da trama, fazendo de Um Lugar ao Sol uma novela requintada, no melhor sentido da palavra. Não há pedantismo e nem uma tentativa de fazer algo diferente de uma novela. Um Lugar ao Sol é novelão, e dos bons.

A audiência inicial não empolgou. Um Lugar ao Sol registrou baixos índices ao longo de toda a semana, mostrando que terá dificuldades em conquistar o público. Em outros tempos, isso seria preocupante, já que a trama poderia passar por intervenções e ser desfigurada, coisa que já aconteceu com várias novelas promissoras. Mas Um Lugar ao Sol já está toda gravada e será curta, com apenas 107 capítulos. Ou seja, com alta audiência ou não, ela se manterá no trilho proposto. Promete.

André Santana

13/11/2021

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5 Comentários

  1. Olá, tudo bem? Uma novela das nove não pode marcar 23 pontos de média. É muito baixo esse patamar... Há um embate sobre o futuro das telenovelas. Um grupo defende que as produções sigam o caminho das superséries para maior inserção no mercado internacional. Sou contra. E o público já dá o seu recado... Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

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    1. Novela está em extinção com tantos streaming se a Globo quiser concorrer precisa explorar novos estilos pra suas tramas e formatos....talvez deixar tudo semanal mudar mesmo

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  2. Excelente até agora. Não dá para esperar menos em se tratando de Lícia Manzo. Ela está mostrando o grande talento que tem. Por fim, azar de quem não está vendo e perdendo. A Globo que lute porque essa audiência baixa é fruto do descaso da emissora com a sua obra. Resolveram privilegiar um remake de uma novela de 30 anos atrás ao invés de valorizar uma grande autora. Não dá para você estrear uma novela curta em novembro, mês que costumeiramente não dá certo com estreia, além da fase atual da Globo ser muito ruim em todas as faixas. Todas as novelas que estão no ar estão flopando desde O Clone até Um Lugar ao Sol. Então, algo está errado na emissora e não é a novela das nove a responsável por isso.

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    1. O povo cansou de novelas. Netflix pegou o público jovem.

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    2. Remate da manchete aliás...mas tese a história seria mais atrativa eu não sei..sers que o ritmo rural agrada essa geração nova?

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