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Apesar dos percalços, "Amor de Mãe" tem mais acertos do que erros

Após um ano e cinco meses de sua estreia, Amor de Mãe chegou ao fim. A novela de estreia de Manuela Dias estreou com uma proposta interessante, ao propor um melodrama dos mais tradicionais envolto numa embalagem mais pretensiosa, com uma estética que buscava imprimir mais veracidade às cenas e situações. O resultado foi uma novela bonita, de visual diferente, mas com uma trama envolvente.

Com Amor de Mãe, a autora mostrou um estilo próprio. Manuela Dias mescla o tom de crônica com seus diálogos muito bem escritos e situações que valorizam as relações humanas, com o thriller policial, o que resultou numa novela agitada, cheia de acontecimentos. Além disso, a autora armou a trama de tal modo que contou uma história com poucos personagens, mas todos muito bem amarrados, sem desperdiçar nenhuma presença. 

Assim, o encontro de Lurdes (Regina Casé), Vitória (Taís Araújo) e Thelma (Adriana Esteves) foi feito aos poucos, entrelaçando todas as vidas mostradas no enredo. Lurdes era o centro, e seu encontro com a advogada e com a dona do restaurante desembocou numa série de situações. Essa foi a beleza do texto, que tinha um enredo até simples. A complexidade estava no desenrolar.

Lurdes foi a dona do enredo clássico. A busca de uma mãe por um filho perdido é um clichê do melodrama que, quando bem feito, é arrebatador. Foi o que aconteceu aqui. Embora a doméstica tenha se encontrado com o filho apenas na última semana, o interesse por esta busca nunca se perdeu, e nem perdeu força ao longo da novela. Isso foi um feito.

Vitória teve a trajetória mais rocambolesca, típica de um novelão. De seu passado surreal, quando fingiu uma viagem ao exterior para entregar seu filho a uma traficante de crianças, até seu presente, quando repensa sua vida e percebe o quanto ser mãe era importante. Foi uma trajetória bonita. Vitória começou a novela sem nenhum filho, tentando engravidar e adotar. E termina com três, uma prole que mudou a sua vida. Foi bem interessante quando, no penúltimo capítulo, a mãe de seu filho adotivo reapareceu. Vitória teve um confronto com seu próprio passado. Uma pena este plot ter sido mal explorado.

Já Thelma teve uma virada típica de um bom thriller. A personagem sempre se mostrou a mais desequilibrada das três. Suas atitudes superprotetoras diante do filho Danilo (Chay Suede) demonstravam uma falha de caráter, que foi se acentuando ao longo da trama até transformá-la numa assassina. O encurtamento da novela fez com que a virada tenha sido apressada demais, o que prejudicou um pouco sua trajetória. Mesmo assim, foi uma virada que revelou uma das partes mais engenhosas do enredo. 

Isso porque, ao longo de Amor de Mãe, Lurdes e Thelma desenvolveram uma amizade legítima. As duas realmente gostavam uma da outra. Mas o sentimento muda quando Thelma descobre que o filho que comprou é, justamente, o filho que a amiga busca. Assim, ela entra num espiral de contradições interessante. Ela se culpa por ter ajudado a amiga a buscar o filho, afinal, ela estava empurrando Lurdes para seu próprio rebento. Essa virada, que transforma a relação delas, foi um gol. Prejudicada pela pressa final, repito, mas ainda assim uma boa virada.

Muito se falou que a qualidade de Amor de Mãe caiu da primeira para a segunda fase. Discordo. Não vi maiores diferenças no enredo entre as duas partes da história. Amor de Mãe era um “novelão”. Com cara de conceitual, mas ainda assim um “novelão”. E isso se manteve na reta final. A pausa entre as duas partes é que acabou criando uma expectativa maior junto ao público do que a história proposta, daí a decepção de parte da plateia. A novela não se perdeu, apenas teve que abrir concessões por conta do tempo diminuído para se chegar ao fim.

O encurtamento da novela por conta da pandemia é que prejudicou a obra. Como a segunda fase foi muito apressada, já que havia pouco tempo para se fechar a trama, algumas situações pareceram forçadas, e outras ficaram mal explicadas. Mas isso não é culpa da autora, que fez o que pode com o pouco que tinha. Talvez a grande falha de Amor de Mãe tenha sido a abordagem da pandemia, que se revelou ultrapassada em alguns aspectos e, em outros, equivocada. Trouxe mais problemas do que soluções para a novela e a deixou pesada demais, num contexto que já é trágico por si só.

Mas, desconsiderando os reveses circunstanciais, Amor de Mãe cumpriu sua missão. Contou uma boa história, com um elenco excepcional, e que ainda contou com o luxo de ter Regina Casé no centro da trama. O carisma da atriz fez de Lurdes uma personagem real, com seus dramas e seu humor. Uma protagonista capaz de fazer o público rir e chorar numa mesma cena é raro, e Regina fez isso muitas vezes. Eu, particularmente, ria muito toda vez que ela teimava em tirar uma foto perto da samambaia que tinha em sua sala. Lurdes é uma representação muito real da figura maternal arquetípica, dentro de todas as suas nuances e contradições. Já deu saudades. De novo!

André Santana 

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5 Comentários

  1. Quero defender Gloria Perez e Manuela Dias. Em Salve Jorge, a novela, mas principalmente a autora foi extremamente massacrada pela suposta falta de realidade na questao do trafico humano para os criticos e redes sociais, o que foi desmintido pelo orgao da PF que cuida desse assunto, ela foi elogiada pela fidelidade, o que mais prejudicou foi a producao , direcao e continuidade. E sim, a novela, como todo novelao teve seus momentos sim de viagem, mas que novela nao tem? Ja em AmordeMae segunda fase, a novela e foi extremamente criticada pelo excesso de drama e realidade imposta principalmente na questao da abordagem da pandemia. Mas o que as pessoas queriam ? Seria uma incoerencia total ser uma novela leve na segunda fase sendo que por mais de cem capitulos ela teve esse drama todo. E assim, mesmo na segunda fase teve seus momentos de leveza, como Penha e Leila, o personagem do Henrique Dias novamente tentando reconquistar a ex. E diminuisse o tom de realidade seria como se fosse uma traicao a primeira fase. Entao, nao da pra ser ou viagem demais ou realidade demais so porque critica e redes sociais querem. E Manuela Dias nao teve culpa por ter aparecido a pandemia. E como bem disse o Andre, a novela nao inventou a roda, era um novelao puro, mas bem feita. E tenho certeza absoluta que mesmo com todos os defeitos da segunda fase, AmordeMae eh muito melhor que a segunda fase que esta por vir da novela do Ertz que esta por vir em maio, ja que agora eh so reprise do comeco da novela.

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  2. Olá, tudo bem? Amor de Mãe apresentou uma estética de série e não como novela das nove, mesmo com o roteiro tradicional. A novela já enfrentava percalços na primeira fase. Jamais explodiu nos índices de audiência. Engatou justamente na época da eclosão da pandemia. Divulgarei hj os pontos positivos e negativos no meu blog. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

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    1. Novela não pode qurer ser conceitual demais quando tenta
      E obrigada a mudar e ficar mais folhetinescs..por mim a Globo acabava com novela das nive e passava pras onze. ..Ai poderia ousar mais

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    2. Olá, tudo bem? Não vejo problemas em buscarem novas linguagens. Só acho que, quando se buscou um visual conceitual, alguns espectadores esperavam demais da novela, que era apenas uma novela. Gerou uma expectativa desnecessária. Eu, particularmente, gostei muito da novela, tanto do roteiro "novelão" quanto da estética diferenciada. Assisti com prazer.

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