Quem gosta de acompanhar os altos e baixos da audiência da TV brasileira deve ter se deparado com a nova “guerra” envolvendo Globo e Record. Esta última tem exibido uma das melhores temporadas de todos os tempos, ao menos no quesito Ibope, de A Fazenda. Já a primeira lançou mais uma temporada de The Voice Brasil justamente neste cenário.

Com isso, o programa de Tiago Leifert começou levando a pior, já que entrou em cena com uma A Fazenda já estabelecida. Porém, os últimos acontecimentos da atração de Marcos Mion acabaram fazendo a dinâmica do reality rural dar uma esfriada, e The Voice ensaiou uma recuperação. Ou seja, a briga entre o reality e o talent show está boa e deve ganhar mais e mais novidades nas próximas semanas.

O sucesso de A Fazenda é merecido. No geral, o programa tem mostrado um entretenimento divertido e empolgante a quem aprecia este tipo de conteúdo, graças sobretudo a um elenco bem escalado. E este sucesso serviu para expor os problemas do The Voice Brasil. Um problema antigo, é verdade, mas que ganhou mais visibilidade em 2020 porque a atração ganhou um forte concorrente.

Afinal, não é de hoje que o The Voice mostra uma imensa falta de capacidade de se reinventar. Desde sua estreia, em 2012, o corpo de técnicos do The Voice Brasil teve apenas duas grandes mudanças: a troca de Daniel por Michel Teló, e a troca de Carlinhos Brown por Iza. Depois disso, o programa apenas “trocou figurinhas” com a versão Kids, com Claudia Leitte e Ivete Sangalo invertendo posições.

Em 2020, essa inversão se repete. Sem Ivete, The Voice Brasil trouxe Brown, que estava apenas no Kids, de volta. Ou seja, um dos músicos do elenco original, que ficou apenas um ano longe da versão “adulta”, já retornou. Se juntou a Lulu Santos, que está ali desde o primeiro ano. É ruim quando o técnico fica tempo demais na cadeira giratória. Ele tende a se tornar caricatura de si mesmo.

The Voice Brasil perdeu uma grande chance de injetar sangue novo. Ao perder Ivete, o programa devia ter considerado trazer uma nova cantora para a função. Assim, não apenas teria no elenco um nome menos “viciado”, como ainda manteria dois homens e duas mulheres na função de técnicos.

Claro, o programa não é só isso. The Voice Brasil também depende muito de seus competidores e sua capacidade de mobilizar torcidas. No entanto, uma mudança no elenco serviria para dar um frescor ao formato, já bastante surrado nesta nona edição.

Ou seja, a concorrência com A Fazenda é um dos problemas do The Voice Brasil. Mas não é o único. O programa também concorre contra si mesmo, por conta de sua insistência em não sair do lugar. Faz tempo que a atração não empolga como já empolgou um dia. Era hora de rever o formato. Ou até mesmo considerar substituí-lo.

André Santana