Record abrevia reprise de Pecado Mortal e finaliza uma era de sua teledramaturgia

Fernando Pavão e Simone Spoladore em Pecado Mortal (divulgação)

Parece que foi ontem, mas lá se vão 20 anos desde que a Record colocou em prática seu ambicioso plano “rumo à liderança”. A emissora tirou o escorpião do bolso e investiu pesado em programação, acenando polpudos cheques para várias estrelas que toparam trocar a Globo pela nova era que se iniciava. Na época, a Record arrematou apresentadores, jornalistas, atores e autores vindos da líder de audiência.

O remake de A Escrava Isaura (2004) deu início a uma nova fase em sua teledramaturgia. No ano seguinte, a Record adquiriu um complexo de estúdios no Rio de Janeiro, batizado de RecNov, onde concentrou seu pólo de novelas. Ali, foram produzidas algumas das novelas mais interessantes dos anos 2000, como Vidas Opostas (2006) e Poder Paralelo (2009). A emissora colocou no ar sucessos como Prova de Amor (2005) e Caminhos do Coração (2007), e até se permitiu experimentar, com a boa, mas esquecida, Alta Estação (2006).

No entanto, essas produções deixaram de ser interessantes para a Record quando Máscaras (2012), Balacobaco (2012), Pecado Mortal (2013) e Vitória (2014) não apresentaram os resultados esperados. Em 2015, com Os Dez Mandamentos, começou a era das “novelas bíblicas”, que elevou consideravelmente a audiência do canal.

De lá para cá, a Record ainda experimentou voltar às tramas “não-bíblicas”, como Escrava Mãe (2016), Belaventura (2017), Topíssima (2018) e Amor Sem Igual (2019). Mas como o resultado das histórias inspiradas no Livro Sagrado se revelaram mais interessantes, o canal decidiu concentrar seus esforços no segmento. Mais do que isso: as novelas se tornaram um instrumento evangelizador, interessante para a Igreja que controla a emissora. Por isso, atualmente, é a Igreja quem produz os folhetins, por meio da Seriella Produções. 

Continua depois da publicidade

Nem em reprises

Mas ainda havia um resquício da “velha dramaturgia” da Record. Por meio de reprises, principalmente no horário da tarde, a emissora lembrava ao público que tinha boas produções “não-bíblicas” em seus arquivos. Tramas como Bicho do Mato (2006), Chamas da Vida (2008), Amor e Intrigas (2009) e Bela, a Feia (2009) apresentaram bons índices na faixa vespertina.

Porém, em 2022, foi lançada a segunda reprise de Os Dez Mandamentos na faixa das 15h. A trama foi substituída por A Terra Prometida (2016). Todas com ótimos índices de audiência para o horário. Com isso, está bem claro que a ideia da emissora é reapresentar outras novelas bíblicas na faixa. Já é possível deduzir que O Rico e Lázaro (2017) será a próxima.

Assim, “sobrou” o horário nobre, faixa em que a emissora surpreende e chega a resgatar alguma novela “não-bíblica” de vez em quandro. Topíssima já ganhou um repeteco no horário, assim como Vidas em Jogo (2011), no ano passado. Este ano, foi Pecado Mortal que ganhou uma “edição especial” para tapar o buraco da linha de shows, às 22h45.

Continua depois da publicidade

Fim de uma era

Entretanto, o fiasco da reprise da história de Carlos Lombardi abreviou sua segunda chance no canal. O ótimo folhetim vem sendo totalmente retalhado na edição para sair do ar em 16 de fevereiro. Depois disso, a Record reprisará Gênesis às 21h45, seguida de uma nova linha de shows. Ou seja, a reprise da novela “não-bíblica” será substituída por uma produção inspirada na Bíblia.

Diante deste cenário, a matemática é simples: as reprises de novelas bíblicas dão mais resultados à Record que os repetecos de novelas “não-bíblicas”. Com isso, a emissora vai continuar tapando os buracos da grade com reprises de novelas religiosas. O fiasco das apostas de Vidas em Jogo, no ano passado, e Pecado Mortal, este ano, sem dúvidas vão desencorajar a emissora a voltar a reapresentar alguma novela contemporânea.

Ou seja, a “era de ouro” da teledramaturgia da Record, que ainda sobrevivia por meio de reprises, acabou de vez. Nem mesmo os repetecos devem ter vez na programação da emissora. As tramas religiosas dominaram todos os espaços e assim será de agora em diante. Acabou.

André Santana

03/02/2024