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Novidade do Viva, Viver a Vida marca declínio do estilo de Manoel Carlos

Taís Araújo e José Mayer em Viver a Vida
Taís Araújo e José Mayer em Viver a Vida (divulgação)

Autor caracterizado por criar dramalhões a partir das relações familiares e situações do cotidiano, Manoel Carlos acabou consolidando um estilo único e inconfundível. Mais do que batizar suas protagonistas como Helena, o autor criou uma fórmula que, durante anos, era garantia de sucesso no horário nobre da Globo.

A trinca História de Amor (1995), Por Amor (1997) e Laços de Família (2000) é aclamada até hoje por seus fãs. Mulheres Apaixonadas (2003) fez história, e Felicidade (1991) e Baila Comigo (1981) foram outras obras marcantes do autor. Mas, com Viver a Vida (2009), pela primeira vez Maneco amargou um enorme fiasco.

Em sua primeira exibição, a trama ficou marcada como a pior audiência da faixa das nove da Globo até então. Além disso, a novela teve a Helena de Taís Araújo, muito criticada na época e considerada uma das piores Helenas criadas pelo autor.

Mas Viver a Vida é tão ruim assim? O público terá a chance de revisitar a obra e tirar novas conclusões a partir de 22 de julho, quando a novela volta ao ar no Viva. O folhetim foi o escolhido para suceder América na faixa das 22h50.

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Qual é a história de Viver a Vida?

Viver a Vida conta a história de Helena (Taís Araújo), uma bem-sucedida modelo que decide encerrar sua carreira nas passarelas para se casar com Marcos (José Mayer), um rico empresário bem mais velho que ela. No entanto, este relacionamento encontra resistência em Tereza (Lilia Cabral), a ex-mulher de Marcos, e Luciana (Alinne Moraes), filha dele e rival de Helena no mundo da moda.

Na viagem internacional que marca sua despedida da carreira, Helena tem um embate sério com Luciana. Furiosa com a enteada, ela se recusa a viajar com a mimada, que se vê obrigada a encarar a estrada numa van. No entanto, a van se envolve num grave acidente. Luciana sobrevive, mas fica tetraplégica. Com a tragédia, Tereza passa a culpar Helena pela fatalidade.

A própria Helena se consome em culpa, sentindo-se responsável pela situação de Luciana. Enquanto isso, a filha de Tereza e Marcos precisa reaprender a viver, superando seus próprios limites para lidar com sua nova condição. Para isso, ela conta com o apoio de Miguel (Mateus Solano), irmão gêmeo de seu ex-noivo Jorge (Mateus Solano).

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Helena é a culpada?

A princípio, a história de Viver a Vida não é das mais desinteressantes. No entanto, o autor Manoel Carlos não a desenvolveu adequadamente, dando sinais de que a fórmula que criou estava desgastada. Na época, houve muitas críticas à personagem de Taís Araújo. Para muitos, era estranho ver uma mulher negra bem-sucedida sem entender como ela foi parar ali. Os críticos apontavam que Helena era tratada como uma mulher branca. Ou seja, havia um problema de abordagem.

De fato, Viver a Vida não se aprofunda na questão racial. No entanto, este não é o maior problema de Helena. Na verdade, Maneco não conseguiu criar uma história interessante para a protagonista. A Helena de Taís Araújo não tinha problemas com filhos, como as outras. E seus problemas no casamento também não eram envolventes. A personagem simplesmente passou capítulos chorando pelos cantos.

Havia a expectativa de um conflito com Dora (Giovanna Antonelli), que entra na história para disputar Marcos com a protagonista. Porém, o autor acabou mudando os rumos da personagem de Giovanna Antonelli ao criar um casal por acaso com Maradona (Mario José Paz). Assim, Helena sequer teve direito a uma antagonista.

A própria Taís Araújo admite que faltou conflito para sua Helena, que não protagonizou a obra que deveria protagonizar.

“A minha personagem era um erro em vários sentidos. Eu faço mea culpa, eu também não fiz bem. Mas também não era um personagem com paint de protagonista”, avaliou a atriz, em entrevista ao programa Campeões de Audiência, exibido pela TV Cultura em 2021.

No programa Tributo em homenagem a Manoel Carlos, Taís voltou a analisar sua Helena.

“Hoje em dia eu consigo ver com distanciamento todos os possíveis erros nossos, meu, do Maneco, do Jayme [Monjardim, diretor], da Globo. Ou o que eu chamo de ingenuidade, de achar que o Brasil não era o Brasil que se apresenta hoje. Na época era um Brasil que a gente acreditava muito que éramos todos iguais, que éramos todos vistos da mesma maneira, que o que estava escrito na Constituição valia na rua. Quando, na verdade, não”, afirmou.

“Eu sempre falo que dessa novela quem tinha mais característica de Helena era a Lilia Cabral, que, por ter feito tantas novelas do Manoel Carlos merecia ter feito aquela Helena. A questão familiar era uma redenção entre aquela mãe e aquela filha. Eu sempre tenho a sensação de que aquela Helena era pra ter sido da Lilia”, reconheceu a atriz.

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Outros problemas

No entanto, culpar Helena pelo fracasso de Viver a Vida não é totalmente justo. Afinal, a protagonista foi apenas um dos vários problemas da novela. Maneco prometeu muitas histórias polêmicas, mas acabou não desenvolvendo nenhuma delas, sem qualquer razão aparente.

Por meio de Ariane (Christiane Fernandes) e Léo (Leonardo Machado), o autor propôs narrar a história de uma médica que se apaixona pelo marido de sua paciente. No entanto, após a morte de Marta (Gisela Reiman), Léo desaparece e Ariane forma um casal de última hora com Jorge. Nada a ver.

Viver a Vida também mostrava as “aventuras” de Gustavo (Marcelo Airoldi), que traía a esposa Betina (Letícia Spiller) com Malu (Camila Morgado). Porém, o triângulo andava em círculos, era chato. Outra história era da jovem Clarisse (Cecília Dassi), casada com Bernardo (Bruno Perillo), um relacionamento ameaçado por Alice (Maria Luisa Mendonça). Outro casal em crise era Ricardo (Max Fercondini) e Ellen (Daniele Suzuki).

Ou seja, Viver a Vida nada mais era que um mosaico de casais em crise, cujas histórias corriam atrás do próprio rabo. Não havia nada de atrativo e as tramas se arrastaram ao longo dos incríveis 209 capítulos da produção.

Justiça seja feita, Viver a Vida acertou no merchandising social. A história de superação de Luciana foi bem mostrada, assim como a anorexia alcoólica de Renata (Bárbara Paz), uma ex-namorada de Miguel. Mas foi só. Viver a Vida ficou devendo uma boa história ao público.

Estranhamente, Manoel Carlos voltou a escrever uma novela desinteressante em sua obra seguinte. Em Família (2014) também pecou pela falta de história e por outra Helena chata, desta vez vivida por Julia Lemmertz - mas, ainda assim, esta Helena teve mais conflitos que a de Taís Araújo…

André Santana

18/05/2024

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4 Comentários

  1. Você citou e opinou sobre todas as novelas do Manoel Carlos na Globo menos Páginas da Vida. Qual sua opinião sobre ela?

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    Respostas
    1. Daniel, concordo com o Fabio abaixo quando ele diz que o declínio de Maneco começou em Páginas da Vida, e também concordo que o texto do autor não "casou" com a direção de Jayme Monjardim. Páginas da Vida já mostrou um Maneco com dificuldades em desenvolver boas histórias. O drama de Helena e a luta dela pela guarda de Clarinha era bem interessante, mas acho que faltou desenvolvimento. O autor perdeu muito tempo com as cenas de Clarinha vendo Nanda e esqueceu da história. Tanto que quando começa a batalha judicial com a família da menina, a novela ganha um ritmo interessante.
      Dito isso, particularmente, eu não acho Páginas da Vida ruim. Mas sim, é bem aquém das tramas anteriores. Mas, considerando a audiência, a novela foi aprovada pelo público na época, então ela tem seu valor. Viver a Vida já foi um fiasco maior, a trama é pior que a de Páginas e a audiência pior ainda.

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  2. Acho que Páginas já é o começo do declínio. Uma das características do Maneco é o elenco grande de suas novelas. Mulheres Apaixonadas tinha isso. Só que havia um revezamento dos personagens e dos núcleos. Aí acabou funcionando o conjunto da trama. Em Páginas, vários personagens viraram figurantes de luxo e atores reclamaram de seus papéis. Se não fosse a Lília, acho que a novela teria sido bem complicada. Aí veio Viver a Vida e foi o declínio total do Maneco.

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  3. Olá, tudo bem? O declínio das novelas de Manoel Carlos começou com Páginas da Vida. A direção do Jayme Monjardim pesou nisso.... Diretor e autor não formaram uma boa parceria no vídeo. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

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