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No Rancho Fundo é boa, mas evidencia crise criativa da Globo

Andrea Beltrão, Larissa Bocchino e Alexandre Nero em No Rancho Fundo
Andrea Beltrão, Larissa Bocchino e Alexandre Nero em No Rancho Fundo (divulgação)

O autor Mário Teixeira disse que a Globo o encomendou uma continuação de Mar do Sertão (2022), mas ele preferiu ir por outro caminho. De fato, No Rancho Fundo não é bem uma continuação, já que não dá sequência à história de Candoca (Isadora Cruz), Zé Paulinho (Sergio Guizé) e cia. Mas pode ser considerada uma espécie de spin-off, já que traz de volta vários personagens da novela anterior.

Ou seja, mesmo que não seja uma continuação propriamente dita, No Rancho Fundo se passa no mesmo “universo” de Mar do Sertão. O que permitirá, além da volta de nove personagens em caráter fixo, participações especiais de outros tipos vistos por Canta Pedra.

É um acerto do autor fazer uma continuação que não é bem uma continuação. Deste modo, ele consegue agradar tanto os fãs da trama anterior, que reconhecerão os “easter eggs”, como também aqueles que, porventura, não tenham acompanhado Mar do Sertão. No mais, trata-se da mesmíssima fórmula: uma comédia romântica situada no interior do Nordeste brasileiro.

Sem dúvidas, trata-se de uma fórmula de apelo para o horário das seis. Isso ficou evidente desde que o mesmo Mário Teixeira assinou, com Walcyr Carrasco, O Cravo e a Rosa (2000), um clássico do horário. A saga de Catarina (Adriana Esteves) não era uma comédia nordestina, mas trazia o mesmo tom de comédia romântica, com certo ar de ingenuidade e alguma malícia. Carrasco seguiu com a fórmula em tramas como Chocolate com Pimenta (2003) e Eta Mundo Bom! (2016), e Teixeira deu sequência, desta vez com histórias contemporâneas e nordestinas.

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Ótima protagonista

Apesar de se passar no mesmo universo de Mar do Sertão, No Rancho Fundo se difere por ter no centro uma família. Quinota (Larissa Bocchino) deve repetir a trajetória romântica de Candoca, mas, desta vez, há a figura da matriarca Zefa Leonel (Andrea Beltrão), a protagonista madura da história. 

Zefa é uma ótima personagem, muito bem construída por Andrea Beltrão, que surge em cena muito diferente de seus trabalhos anteriores. A personagem tem suas contradições, já que, ao mesmo tempo em que se mostra como uma mulher empoderada, ela luta para “defender a honra” da filha, argumento que, à primeira vista, soa ultrapassado.

No Rancho Fundo também apresenta uma gama de personagens coadjuvantes que devem segurar a história com situações episódicas, quase como esquetes. Foi uma estratégia que funcionou em Mar do Sertão e que deve se repetir aqui.

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Falta de criatividade?

Mas, apesar dos acertos dos primeiros capítulos, No Rancho Fundo deixa algumas questões no ar. Uma delas é: será que, desta vez, Mário Teixeira não vai queimar a largada? Afinal, em praticamente todas as suas novelas, o autor apressou, sem nenhuma necessidade, sua história principal, fazendo a trama se esgotar rapidamente.

Foi assim em I Love Paraisópolis (2015) - com Alcides Nogueira -, O Tempo Não Para (2018) e a própria Mar do Sertão, na qual a história envolvendo Candoca, Zé Paulino e Tertulinho (Renato Góes) foi toda contada às pressas e acabou com menos de um mês com a novela no ar. Fica a torcida para que Teixeira tenha aprendido a lição e não repita o mesmo erro desta vez.

Outro questionamento é um pouco mais amplo: ao se render a remakes e sequências (mesmo que não-oficiais), a Globo ficará refém de fórmulas prontas? A emissora já confirmou uma novela de Alessandra Poggi às seis que deve repetir a mesma fórmula de Além da Ilusão (2022). Além disso, de acordo com o portal Notícias da TV, o canal pediu a Walcyr Carrasco uma continuação de Eta Mundo Bom!. Ou seja, as novelas das seis serão todas parecidas de agora em diante.

Já às 21h, os remakes ganha cada vez mais espaço. Depois de Pantanal (2022), veio Renascer. No ano que vem, será a vez de Vale Tudo (1988). E não estranhem se Bruno Luperi retornar ao ar dentro de dois anos com uma nova versão de O Rei do Gado (1996).

A teledramaturgia da Globo vive uma evidente fase de falta de criatividade crônica. E é triste pensar em onde isso vai parar…

André Santana

20/04/2024

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