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Chega Mais estreia com boa intenção, mas falta "DNA do SBT"

Regina Volpato, Michelle Barros e Paulo Mathias no Chega Mais
Regina Volpato, Michelle Barros e Paulo Mathias no Chega Mais (divulgação)

Em todas as entrevistas que concedeu para falar sobre a estreia do Chega Mais, nova revista eletrônica matinal do canal de Silvio Santos, a apresentadora Regina Volpato declarou que o diferencial da nova atração era o “DNA do SBT”. A jornalista repetia que o SBT era uma emissora que trazia o colorido até no logotipo e que isso também estaria no novo programa.

Ou seja, Regina Volpato admitiu que Chega Mais não era muito diferente do Encontro, Mais Você e Hoje em Dia, seus principais concorrentes. Mas que teria como “novidade” o fato de ser um programa do SBT, uma emissora que se construiu com uma grade popular, de grandes comunicadores, e com programas de entretenimento reconhecidos como alegres. 

Era uma ótima promessa, já que foi justamente a falta do tal “DNA do SBT” que derrubou outras apostas similares do canal no passado, como o Vem pra Cá (2021) e o Olha Você (2008). Mas, considerando apenas a primeira semana, a promessa não foi cumprida. Chega Mais, apesar das boas intenções, teve edições geladas, burocráticas, que passaram longe do colorido do logotipo do SBT.

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Contra a vontade do dono

Há um forte rumor nos bastidores da TV que afirma que Silvio Santos abomina programas no estilo do Chega Mais. Flavio Ricco, colunista do R7, até já afirmou que o dono do SBT chama este tipo de atração pejorativamente de “bate bolo”. Ou seja, uma revista com culinária, comportamento, saúde e prestação de serviço nunca caiu nas graças do animador.

Considerando que o SBT sempre foi na contramão deste tipo de atração, o rumor deve ter seu fundo de verdade. Enquanto várias emissoras apostaram em programas no estilo nas manhãs e tardes, o SBT sempre preferiu apostar em infantis, enlatados, games e atrações de variedades, tipo Programa Livre, Charme ou o clássico Fantasia.

Ou seja, enquanto os concorrentes batiam bolo, o SBT apostava na alegria, nas crianças, nos games, nas entrevistas… Mas nunca em programas tipo “revista eletrônica”. Aliás, dizem que as apostas anteriores no filão só aconteceram por insistência do departamento comercial, e não por vontade de Silvio Santos.

Silvio Santos é um animador de auditório que construiu sua carreira em programas de distribuição de prêmios. Esse estilo acabou sendo impregnado no SBT, que, ao longo de seus mais de 40 anos no ar, foi alicerçado em atrações assim. Já revistas eletrônicas prezam pela informação. E o jornalismo, como se sabe, nunca foi o forte do SBT.

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Cadê o DNA?

Não é impossível o SBT emplacar uma revista eletrônica. Mas Regina Volpato está certa quando fala em “DNA do SBT”. A emissora precisava ir na contramão da concorrência e dar sua cara a um programa nesse estilo. Algo que, até hoje, o canal não conseguiu. Que o diga o Vem pra Cá, de triste lembrança.

Chega Mais não é um programa ruim. Regina Volpato é um baita nome, e alguém com história no SBT, o que conta pontos a seu favor. Paulo Mathias e Michelle Barros são boas apostas. Na primeira semana, o trio pareceu bem entrosado. Houve reclamações na internet sobre o espaço de cada um, mas o barulho parece mais briga de fãs-clubes do que algo realmente concreto. Além disso, leva tempo para que cada comandante estabeleça seu espaço. Dividir o comando sempre será um desafio.

As pautas da primeira semana ficaram no arroz com feijão. Assuntos interessantes, como o medo de dirigir e a ameaça do deep fake, foram acertos. Já outros, como tipos de barba, são dispensáveis. As quatro horas de duração são questionáveis, já que o programa fica cansativo - por outro lado, há o entendimento que o público que acompanha o segmento matinal não é o mesmo que assiste no início da tarde. Deve haver uma transição de espectadores na faixa do almoço.

Porém, tudo foi mostrado num tom excessivamente burocrático. Faltou mais alegria, mais colorido, mais “DNA do SBT”. Uma saída para encontrar uma identidade própria seria mesclar os quadros de notícias e prestação de serviço com games ou outras atrações que mirem apenas entretenimento. Pode ser um caminho. É preciso "quebrar o gelo". 

Chega Mais é o tipo de programa que vai se ajustando no ar. Sendo assim, se o SBT tiver paciência para fazer os devidos ajustes e esperar os resultados, a atração tem potencial. Por enquanto, já é louvável que o canal tenha saído da inércia e o Chega Mais já é uma boa novidade apenas por ter oportunizado o encurtamento do Primeiro Impacto. Agora, é saber buscar sua identidade.

André Santana

16/03/2024

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