"Esse gato está roubando nosso brilho!" |
No ano de 2015,
a Globo viu à sua frente um concorrente à altura: o
fenômeno Os Dez Mandamentos, sucesso
da Record. O barulho causado pela trama bíblica obrigou o canal a repensar sua
fila de novelas das nove, tomada por dramas pesados passados em favelas, Babilônia e A Regra do Jogo. Enxergando um possível cansaço da fórmula urbana e
violenta, a emissora adiou A Lei do Amor
e escalou Velho Chico, um projeto
antigo de Benedito Ruy Barbosa. Assim, trouxe de volta a novela rural, que não
dava as caras no horário nobre havia anos.
Agora, em 2018, não há um Os Dez Mandamentos à frente. E o horário nobre da emissora não vive
uma crise de audiência tão grave quanto a de três anos atrás. Mesmo assim,
ainda é possível constatar um excesso de dramalhões urbanos. Isso porque a
fórmula da novela das nove tem ficado cada vez mais presa à violência, às campanhas
sociais e a histórias cada vez mais duras e pesadas. Basta comparar com os anos
1990, por exemplo, onde havia uma diversidade de temáticas no horário nobre bem
mais evidente que nos dias de hoje. Justamente porque, entre um drama urbano e
outro, havia uma história rural de Benedito Ruy Barbosa e... uma trama de
realismo fantástico de Aguinaldo Silva.
Herdeiro de Dias Gomes, Aguinaldo Silva escreveu pequenos
clássicos regionalistas fantásticos nos anos 1990. Tieta, Pedra Sobre Pedra, Fera Ferida, A Indomada e Porto dos Milagres conquistaram um lugar
especial no coração do noveleiro com suas histórias bem humoradas, passadas em
cidadezinhas do interior onde tudo podia acontecer. Entretanto, depois de
tantas novelas baseadas na mesma fórmula, Aguinaldo Silva percebeu que estava
se repetindo e optou por se reinventar. Tentou primeiro com Suave Veneno, que não deu certo (aí ele
voltou ao regionalismo com Porto dos
Milagres), mas se consagrou anos depois com Senhora do Destino, uma das melhores novelas da década de 2000.
Porém, nestes tempos mais difíceis, fazia falta uma novela
capaz de tirar o espectador da realidade. Sendo assim, Aguinaldo Silva retoma
seu estilo anterior num momento mais do que oportuno. O Sétimo Guardião, que estreou esta semana na Globo, tem a proposta
de fazer o público sonhar. A espinha dorsal é bem fantasiosa. Há um grupo de
uma sociedade secreta que tem a missão de proteger uma fonte de poderes
mágicos. Quando León, o gato, desaparece, é sinal de que o principal dos guardiões
está prestes a deixar a missão e ser substituído. Egídio (Antonio Calloni) é o
guardião, e o eleito para substituí-lo é nada menos que o filho que ele nem
sabe que existe, Gabriel (Bruno Gagliasso). Ele é filho da poderosa Valentina
Marsalla (Lília Cabral), que Egídio abandonou no altar no passado. Quando
Gabriel repete a história com sua noiva para atender ao chamado, Valentina
percebe que há algo estranho e decide buscar os segredos desta história.
O local onde este “tesouro da humanidade” está é Serro Azul,
cidadezinha perdida no meio do nada onde tudo pode acontecer. Ali, há os tipos
já tão comuns das antigas novelas de Silva: o prefeito, a bruxa, o padre, a
“carola”, a dona do bordel, o comerciante, o delegado... Todos peças-chave
dentro de uma cidade pequena, na qual qualquer acontecimento é capaz de mudar a
rotina. É ali que vive Luz (Marina Ruy Barbosa), uma garota um tanto sensitiva
que formará com Gabriel o par romântico do enredo.
O interessante da proposta de O Sétimo Guardião é que, apesar de marcar o retorno de Aguinaldo
Silva ao seu universo mais interessante, o autor trouxe novidades para a
fórmula. Há uma mistura entre a realidade urbana e o universo fantástico de
Serro Azul que não havia em suas histórias anteriores. Além disso, o par
romântico tem elementos que vão além das brigas familiares, o que movia boa
parte de suas tramas anteriores. E não é somente o texto que traz novidades. A
direção de Rogério Gomes ressalta a porção fantástica do enredo com elementos
conhecidos das séries de terror, dando um ar sombrio que as novelas anteriores
de Aguinaldo não tinham. Isso sem falar nos takes criativos do diretor, com
movimentos de câmera inusitados que valorizam os espaços. Com isso, leva o
espectador para dentro das cenas.
Sendo assim, é muito bem-vinda a proposta de retomar o
realismo fantástico na faixa das nove da Globo. Isso traz de volta uma
necessária leveza e bom-humor à faixa. Promove o escapismo, mas sem se descolar
totalmente da realidade, já que o realismo fantástico permite a inserção de
críticas sociais e políticas por meio de metáforas que sempre funcionam muito
bem. O Sétimo Guardião tem bons
elementos para tal. Resta saber se o público está aberto para embarcar nesta
fantasia.
Ah, e é sensacional a história se passar em Serro Azul. A
cidade era sempre a “cidade vizinha”, próxima à Tubiacanga, Greenville e Porto
dos Milagres, onde os personagens de Fera
Ferida, A Indomada e Porto dos
Milagres sempre visitavam. Agora, é Serro Azul o palco principal da ação,
enquanto Greenville é a cidade próxima mais citada pelos personagens de O Sétimo Guardião. Aliás, Ypiranga
Pitiguari (Paulo Betti) e sua esposa Scarlet (Luiza Tomé), ex-prefeito e
ex-primeira dama de Greenville, estão prestes a dar as caras em O Sétimo Guardião. Retornos que só o “universo
compartilhado aguinaldiano” pode oferecer.
André Santana
3 Comentários
Olá, tudo bem? Comentarei neste domingo sobre a semana de estreia de O Sétimo Guardião. Eu não consegui, até agora, entender o mote principal da novela. Sei não, sei não... Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br
ResponderExcluirAs novelas a antigas eram muito engraçadas delegado marinha com sotque Nordeste inglês. ..borrões...hj em dia nao tem personagens tao únicos tipo Antiga etc ...só se ela voltasse pra segurar uma história dessa. .essa é a questao
ExcluirOi Fabio, tudo bem? Muita gente teve a mesma impressão que você e achou a novela confusa. Particularmente, não achei isso não. Pelo contrário, ela é bem simples. Vamos ver como o espectador reagirá.
ExcluirMiguel, O Sétimo Guardião deve ficar mais bem-humorada, pelo menos essa é a promessa de Aguinaldo Silva. Embora sem sotaque nordestino, o humor do Aguinaldo costuma ser bom!
Abraços aos dois!