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"Não faço tanto sucesso assim desde minha participação na Família Dinossauros" |
Órfãos da Terra, novela das seis da Globo
finalizada ontem, 27, teve uma estreia arrebatadora. Com jeitão de saga épica,
a novela tinha um tom documental no qual abordava um assunto atual e urgente: o
drama dos refugiados de guerra. Ao mostrar uma mocinha refugiada da Síria, que
passa por maus bocados com sua família para chegar ao Brasil, a história de
Duca Rachid e Thelma Guedes trazia uma temática envolvente em meio ao folhetim
tradicional. E Laila (Julia Dalávia) não era “só” refugiada”. Ela também fugia
da obsessão do terrível sheik Aziz (Herson Capri), ao mesmo tempo em que se
apaixonava pelo seu funcionário, Jamil (Renato Góes).
Assim, com reviravoltas folhetinescas pra ninguém botar
defeito, Órfãos da Terra teve uma
primeira fase acima da média. A novela era tão eficiente em sua função de
entretenimento somada à denúncia social, que muitos apontaram que a trama devia
estar no horário mais nobre. Órfãos da
Terra tem cara de novela das nove, disseram vários. Realmente. A primeira
fase era tão grandiosa que parecia maior que o horário que ocupava.
Um dos acertos da primeira fase era justamente o grande
vilão. O sheik Aziz era uma figura odiosa, que despertava medo. Ao mesmo tempo
em que era obcecado por Laila e fazia de tudo para tê-la em seu harém, o sheik
também mimava a igualmente do mal Dalila (Alice Wegmann), sua filha, e
maltratava Soraia (Letícia Sabatella), uma de suas esposas. O drama ficou mais
intenso quando Soraia se apaixonou por Hussein (Bruno Cabrerizo), enfrentando a
fúria do vilão. O final desta história de amor foi trágico.
Mas Aziz é misteriosamente assassinado no final da primeira
fase de Órfãos da Terra. Com isso,
dá-se início à ascensão de Dalila como principal vilã, que iniciou um amalucado
plano para se vingar da morte do pai. Deste modo, Órfãos da Terra perdeu o tom épico para se tornar uma novela das
seis mais tradicional. Sua trama principal passou a ser, apenas, a vilã
tentando separar Laila e Jamil, ao mesmo tempo em que criava as armações mais
sem sentido para prejudicar toda a família da mocinha.
Apesar de não ter o mesmo brilho da fase inicial, Órfãos da Terra não ficou
necessariamente ruim. Sim, a trama principal ficou um tanto frouxa e
desinteressante. Porém, a novela tinha tramas paralelas bastante envolventes,
que, cada uma do seu jeito, tratava de aceitação, tolerância e respeito às
diferenças. Personagens como Missade (Ana Cecília Costa), Camila (Anaju
Dorigon), Almeida (Danton Mello), Zuleika (Emanuelle Araújo), Rania (Eliane
Giardini), Norberto (Guilherme Fontes), Teresa (Leona Cavalli), Sara (Verônica
Debom), Ali (Mouhamed Harfouch), Abner (Marcelo Médici), Latifa (Luana Martau),
Boris (Osmar Prado) e Mamede (Flavio Migliaccio), entre outros, ofereceram bons
momentos.
Ao se segurar nas tramas paralelas, Órfãos da Terra conseguiu consolidar um público. Mesmo que as
críticas passaram a ser mais constantes, a audiência não sofreu grandes
alterações e a novela encerrou seu ciclo ostentando uma boa média. Até porque, apesar
dos pesares, o saldo geral de Órfãos da
Terra não é negativo. A trama, no geral, ofereceu bons momentos, ótimas
atuações e uma direção segura e criativa. Além disso, acertou em cheio ao
passar uma mensagem de otimismo e esperança em meio ao caos mundial em que
vivemos. De uma maneira singela e driblando a panfletagem, Órfãos da Terra deixou o seu recado.
Assim, o maior problema de Órfãos da Terra foi mesmo o abismo que separou suas duas fases.
Enquanto a primeira fase foi épica e muito bem realizada, com cara de horário
nobre, a segunda fase foi “apenas” um arroz com feijão bem temperado. A
comparação entre suas duas fases é que pesa contra a novela. A trama concorreu
com ela mesma. E perdeu.
André Santana