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Ana Clara Lima e Michel Teló no Estrela da Casa (reprodução) |
A última segunda-feira, 6, foi inusitada para fãs de talent shows musicais. Na mesma noite, a Globo encerrava a segunda temporada de seu Estrela da Casa, enquanto o SBT lançava sua versão do The Voice Brasil em parceria com a Disney. Momento curioso, se considerarmos que talent shows musicais nunca provocaram grande frisson na TV brasileira e, mesmo assim, seguem com cadeira giratória cativa nas emissoras nacionais.
Na Globo, a segunda temporada do Estrela da Casa serviu para apagar a má impressão da temporada original. No ano passado, a atração foi anunciada como um formato original que mesclava confinamento com competição musical. Ou seja, era uma espécie de BBB com aspirantes a cantores.
Na prática, não funcionou. A disputa musical ficou perdida em meio a dinâmicas de Big Brother, com provas de resistência e dinâmicas típicas da atração comandada por Tadeu Schmidt. Resultado: o programa não agradou nem os fãs de BBB, que se incomodavam com a cantoria, e nem os órfãos do The Voice, que não entenderam porque os cantores precisavam passar por provações que nada tinham a ver com música.
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Renovação necessária
Percebendo o erro, a Globo promoveu uma enorme reforma em seu Estrela da Casa e entregou uma segunda temporada bem diferente da primeira. As provas a la BBB saíram de cena, a casa se tornou um Centro de Treinamento e a competição musical, de fato, se tornou protagonista do programa. Na prática, Estrela da Casa replicou o formato do Fama, competição musical exibida pela Globo entre 2002 e 2005.
Embora não tenha sido original, o novo Estrela da Casa se tornou mais agradável justamente por sua proposta mais clara. O programa apresentado por Ana Clara Lima - aliás, ótima na função - rendeu bons momentos para quem curte este tipo de programa.
Entretanto, o formato ainda apresenta problemas. O principal deles é o fato de a Globo ter optado por sua exibição diária, que fazia mais sentido quando o programa emulava a estrutura do BBB. Por ser muito focado na música, faltou conteúdo interessante para exibir todos os dias. O Fama, vale lembrar, era semanal. Nas duas primeiras temporadas, chegou a exibir uma versão diária, mas com episódios curtos, de cinco a dez minutos de duração, antes de Malhação.
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Público desinteressado
Estrela da Casa escapou das pesadas críticas que recebeu em 2024. Porém, o programa também não foi nenhum estouro no quesito repercussão. A competição musical da Globo parece ter passado em brancas nuvens e sua vencedora Thainá Gonçalves corre o risco de seguir os passos de outros vencedores de talent shows, que nunca chegaram a explodir de verdade no cenário musical - salvo uma ou outra exceção.
Isso mostra que competições musicais não causam no Brasil o mesmo frisson que provocam em outros países. Em muitos lugares, estes programas costumam mobilizar torcidas e revelar novos ídolos. Por aqui, isso não acontece.
Mas, mesmo assim, as emissoras brasileiras insistem em seguir produzindo competições neste estilo. A Record, até o ano passado, tinha o Canta Comigo, que ficou bastante tempo no ar. O SBT, que já teve Popstars e Ídolos, volta agora ao filão com o The Voice Brasil. A boa aceitação comercial justifica a insistência das emissoras em seguir investindo no formato.
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Casa nova
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Matheus e Kauã, Duda Beat, Péricles e Mumuzinho no The Voice Brasil (divulgação) |
Neste contexto, a parceria entre SBT e Disney viabilizaram a volta do The Voice Brasil à televisão brasileira. O programa, é justo reconhecer, é um dos mais bem-sucedidos do segmento na TV do Brasil e alcançou expressiva repercussão na Globo ao longo de suas 12 temporadas.
No entanto, o formato não conseguiu escapar de um inevitável desgaste. Enquanto suas primeiras temporadas asseguraram a liderança de audiência da Globo com bons índices, as temporadas finais decepcionaram tanto na repercussão quanto nos números do Kantar Ibope. Por isso mesmo, o canal decidiu não renovar os direitos de produção do programa.
Assim, por meio de sua produtora, Boninho levou o formato à Disney e SBT, garantindo o retorno da atração. Na casa nova, o The Voice Brasil continua apostando numa disputa de alto nível, com bons competidores e um time de técnicos dos mais respeitáveis.
A nova fase do programa tem duas vantagens. Uma delas é ter renovado o time de técnicos, algo que não aconteceu com a frequência necessária da Globo. A emissora dos Marinho insistiu tanto em alguns nomes que, no decorrer dos anos, os técnicos ficaram “over” e se tornaram caricaturas de si mesmos. Já no SBT, Mumuzinho é o único “experiente”, mas integra um time de novatos que dá frescor ao programa. Isso ajuda a oxigenar o formato.
Além disso, a nova temporada do The Voice começa dois anos depois de sua despedida da Globo. O hiato serviu para dar um respiro ao programa, o que reduz a sensação de cansaço. Claro que, no SBT e na Disney, o “canhão” tem bem menos potência que na Globo. Por outro lado, The Voice surge como um produto com potencial. Basta observar que a atração elevou os índices do SBT em seu horário de exibição. Na atual crise do canal dos Abravanel, não é pouca coisa.
André Santana
12/10/2025
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