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'Meu Vale a Pena Ver de Novo': Impressões sobre Corpo a Corpo, clássico de Gilberto Braga

Eloá (Débora Duarte) e Osmar (Antonio Fagundes) em Corpo a Corpo
Eloá (Débora Duarte) e Osmar (Antonio Fagundes) em Corpo a Corpo (divulgação)

Acabei de assistir Corpo a Corpo no Globoplay. A trama de 1984 é considerada por seu autor, Gilberto Braga, como sua melhor novela. O fato de o novelista ter tão alto conceito sobre sua obra sempre me despertou a curiosidade para assisti-la. Assim, finalmente consegui assisti-la na íntegra na plataforma de streaming da Globo.

Ao terminar de ver Corpo a Corpo, fica fácil entender o motivo de Gilberto Braga gostar tanto dela. É, de fato, uma ótima novela. Talvez ela não tenha o apelo popular de Dancin’ Days (1979) e Vale Tudo (1988), suas obras mais aclamadas, mas, de fato, considerando a estrutura narrativa, Corpo a Corpo é uma novela muito bem resolvida. Se não é a melhor de Giba, sem dúvidas está entre as melhores.

Um dos grandes atrativos de Corpo a Corpo é sua premissa inusitada: Eloá (Débora Duarte) firma um pacto com um homem misterioso - seria o diabo? - e, a partir daí, ascende na empresa de engenharia onde trabalha. Eloá ganha muito dinheiro, se torna uma das principais executivas da firma e chega um momento em que ela se vê obrigada a demitir o próprio marido, Osmar (Antonio Fagundes). Com isso, seu casamento chega ao fim.

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Fantasia?

O grande trunfo de Corpo a Corpo é ter como espinha dorsal uma trama, a princípio, fantasiosa - no caso, o pacto com o diabo - para colocar em discussão assuntos bastante em voga no início dos anos 1980. A trama faz uma abordagem competente (e até à frente de seu tempo) sobre o machismo e o lugar da mulher na sociedade.

Osmar simplesmente não lida bem com o fato de sua esposa ganhar mais do que ele, o que gera um sério conflito em seu casamento. Quando o casal rompe, muitos personagens passam a julgar Eloá, questionando sua ambição. Na verdade, Eloá queria apenas proporcionar uma vida melhor para sua família a partir de seu sucesso profissional. Mas, para muitos, ela optou pela carreira e deixou o marido em segundo plano. Uma baita discussão!

Pouco depois do capítulo 80, é revelado que o homem misterioso não era o diabo, mas sim Raul (Flavio Galvão), que fazia parte de um grande golpe cujo objetivo era separar Eloá de Osmar. A novela constrói esse mistério de forma muito instigante, e Corpo a Corpo é uma rara incursão da Globo em uma história de suspense. Sempre fica a dúvida junto ao espectador: afinal, Raul é o diabo ou não?

Toda a estrutura narrativa da novela é muito bem armada para se chegar ao clímax, quando a farsa é revelada. Ou seja, Corpo a Corpo começa quase como uma fantasia, mas vai se revelando uma trama muito realista, sobretudo em razão da temática que discute o que seria “papel de homem” e “papel de mulher”. É tudo muito engenhoso.

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Duas protagonistas, duas histórias

Além de Eloá, Corpo a Corpo também é protagonizada por Tereza (Gloria Menezes), uma enfermeira dedicada que vai trabalhar na mansão dos Fraga Dantas, cujo patriarca, Alfredo (Hugo Carvana), é o dono da empresa onde trabalha a personagem de Débora Duarte. Ela acaba conquistando toda a família, inclusive Alfredo, que a pede em casamento.

Tereza é muito bem-recebida por todos na família, com exceção de Bia (Malu Mader), a filha caçula de Alfredo, que cisma que a enfermeira esconde algo. De fato, mais adiante, é revelado que Tereza não chegou na mansão por acaso e que ela carrega um grande segredo. Quando a novela revela a verdade sobre o “diabo” Raul, Tereza mostra uma nova face e vai até presa.

Quando Tereza deixa a prisão, começa uma nova fase em Corpo a Corpo. Mesmo com a farsa do diabo revelada, Raul volta a afirmar que é o “cramulhão” e passa a atormentar a enfermeira, exigindo que ela mate Alfredo. Em troca, o diabo oferece o amor de Osmar, por quem Tereza era apaixonada no passado.

Ou seja, Corpo a Corpo se divide em duas partes. A primeira é mais coesa e bem-construída. Já a segunda é mais arrastada, com novos conflitos que claramente foram criados para “encher linguiça”. No entanto, o novo pacto, que traz um novo mistério à novela, é interessante. Assim como na primeira parte, a verdade sobre o diabo só é revelado no fim da trama, e o desfecho é surpreendente. A estrutura de Corpo a Corpo, com duas protagonistas que se “envolvem” com o diabo, uma em cada “fase” da trama, é muito bem armada.

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Novela preferida de Gilberto Braga

Ao livro Autores, Histórias da Teledramaturgia, Gilberto Braga contou que considerava Corpo a Corpo sua melhor novela. “Sempre pensei ‘Por que falam de Dancin’ Days e Água Viva quando citam meus sucessos e não falam de Corpo a Corpo?’ Era uma novela extremamente bem-feita, com uma trama bem armada, baseada em histórias de ascensão social e vingança (…) Até hoje é muito elogiada por escritores”, avaliou.

O autor considerava que o fato de Débora Duarte ter sido escalada como protagonista colaborou para que Corpo a Corpo não ficasse na memória do público. “Débora fez brilhantemente o papel, mas não era a Sônia Braga em Dancin’ Days. E isso conta muito pra uma novela ficar. O público se liga muito em estrelas”, disse, de acordo com o livro Gilberto Braga: O Balzac da Globo, de Artur Xexéo e Mauricio Stycer.

De fato, Corpo a Corpo merecia mais reconhecimento, até por sua estrutura ousada, com cores de thriller, e um plot um tanto quanto inusitado - que, vamos combinar, dificilmente seria aprovado hoje em dia. Para quem não viu, fica a recomendação no Globoplay: vale a pena!

André Santana

16/07/2025

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