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Éramos Seis chegou ao fim na Globo com uma
generosa dose de esperança para o público. A versão de Ângela Chaves do texto
original de Silvio de Abreu e Rubens Ewald Filho, inspirado na obra de Maria
José Dupré, modificou os rumos de praticamente todos os personagens, deixando a
trama mais terna e otimista. Assim, Lola (Gloria Pires) teve que esperar a
quinta versão de sua história para a TV para poder terminar a obra feliz,
apaixonada e com os filhos por perto.
Pequena obra-prima do SBT (e também feita duas vezes pela
Tupi e uma vez pela Record), Éramos Seis
mexe com a memória afetiva do público. A versão do SBT tornou-se um clássico,
afinal, foi uma produção bastante superior ao que a emissora de Silvio Santos
costumava produzir no campo das novelas até então. Capitaneada por Nilton
Travesso, e com excelentes textos à disposição, a estratégia de dramaturgia do
SBT implantada em 1994 atraiu grandes nomes, como Irene Ravache, Othon Bastos,
Marcos Caruso, Denise Fraga e Nathalia Timberg, entre tantos outros. Por isso,
fez história.
Assim, para fazer valer a sua versão, a Globo também optou
por um elenco de peso. E acertou, de cara, com a escolha da Lola da vez. Gloria
Pires, com sua interpretação sempre humana e minimalista, fez uma Lola
grandiosa. Foram os olhares e os pequenos gestos da personagem que fizeram o
público embarcar na saga da dona de casa que fazia tudo para ver sua família
feliz. O calvário da personagem, cuja trajetória é marcada por perdas e
reveses, foi bastante equilibrado com uma postura forte e esperançosa de Lola.
Com isso, Éramos Seis fez justiça à
própria Gloria Pires, que vinha de uma série de personagens equivocados nos
últimos anos. Finalmente, ganhou um papel à sua altura e nadou de braçadas.
Com uma Lola menos submissa, a atriz e o texto ainda abriram
espaço para um novo amor para a dona de casa, coisa que nunca aconteceu nas
versões anteriores. O sentimento entre Lola e Afonso (Cássio Gabus Mendes) foi
construído de maneira sutil, aos poucos, crescendo sem pressa diante do
público. Assim, criou-se toda uma expectativa para que Lola voltasse a viver um
amor, depois da perda de Julio (Antonio Calloni, outra escalação excepcional). Com
isso, Ângela Chaves criou um entrecho inédito, muito delicado e feliz.
Falando em história de amor, outra trama que cresceu e tomou
rumos inesperados foi a saga de Clotilde (Simone Spoladore). A irmã de Lola,
nesta versão, ganhou contornos mais românticos e dramáticos. Sua paixão
proibida por Almeida (Ricardo Pereira), um homem casado, representou bem o
conservadorismo da época e emocionou. A trajetória cheia de altos e baixos, desembocando
num final feliz, foi bastante acertada. Excelente retorno de Simone à Globo,
grande atriz.
Aliás, como dito acima, o elenco poderoso foi um grande
acerto desta versão. Nomes como Maria Eduarda de Carvalho (Olga), Eduardo
Sterblich (Zeca), Carol Macedo (Inês), Joana de Verona (Adelaide), Julia
Stockler (Justina), Denise Weinberg (Maria) e Camila Amado (Candoca) foram
outros acertos. A veterana Susana Vieira, que vinha com uma série de
personagens que mais pareciam versões dela mesma, desta vez saiu do piloto
automático e surpreendeu com sua tia Emília. Aliás, outra personagem modificada
nesta versão, ganhando interessantes contornos mais humanos, apesar da dureza
com que se relacionava com todos. A relação complicada da ricaça com suas
filhas foi outra trama que chamou bastante a atenção.
De quebra, a versão Globo de Éramos Seis acertou ao homenagear, sempre que possível, a versão do
SBT. Participações especiais de nomes como Othon Bastos, Marcos Caruso, Wagner
Santisteban e Luciana Braga se mostraram uma maneira bastante simpática de
reverenciar a montagem anterior. Isso sem falar no “encontro das Lolas”,
proporcionado pela sequência em que Gloria Pires, Irene Ravache e Nicette Bruno
se encontraram em cena. Foi lindo vê-las juntas, reunindo tantos capítulos
importantes da história da TV.
Assim, Éramos Seis
sai de cena como um acerto da Globo. A “simples” saga familiar criada por Maria
José Dupré, mais uma vez, se mostrou como uma história poderosa, magnética, que
faz o público se envolver e se emocionar. Valeu.
André Santana